Angola: Camponesas e generais mantêm conflito sobre terras no bairro nobre de Talatona, em Luanda

Imagem aérea de Luanda Sul

As camponesas acusam os generais da cooperativa de usurpação de suas terras, mas general Dino Matross diz que nunca roubou nada de ninguém.

Vários hectares de terra continuam em disputa no bairro nobre de Talatona, na capital angolana.

De um lado, as mamãs camponesas, representadas pela Associação Ana Ndengue, do outro a cooperativa Lar do Patriota, de generais ligados ao partido no poder.

O litígio já leva uma década e está em tribunal a aguardar por uma decisão desde a audiência de há seis meses.

As camponesas acusam os generais da cooperativa de usurparem as suas terras, enquanto um dos generais diz que está a ser alvo de difamação e calúnia e que nunca roubou nada de ninguém.

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As mamãs camponesas afirmam que dali não arredam pé.

"Nos perseguem até agora por quê, se o terreno é nosso, não vamos abandonar porque nos pertence, não vamos deixar algo que é nosso, sofremos muito a trabalhar nestas lavras", diz a septuagenária, Conceição Sabino.

Luisa Umba Ventura, outra mamã que integra a Associação Ana Ndengue, questiona as autoridades e diz que as terras são delas.

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"O caso já está em tribunal, mas o Lar do Patriota continua a construir, nós as camponesas não podemos mexer na terra que é nossa, só tirar capim que é de Deus, eles caem contra nós, afinal o que fizemos nós de camada baixa para não termos valor nenhum, nem direito à terra que nos pertence, vamos aonde?", pegunta Luisa Ventura

O porta-voz da Associação Ana Ndengue acusa os administradores de estarem mancomunados com os generais da cooperativa Lar do Patriota e diz que mesmo com uma providência cautelar, que impede qualquer tipo de intervenção no espaço, enquanto o processo não for decidido pelo tribunal, as administrações do Distrito e o município do Talatona continuam a conceder licenças a pessoas do Lar do Patriota para construir".

Raimundo Gualdino apela ao IGAE que intervenha porque "este é o momento para agir e indagar os administradores da razão de estarem a se comportar assim e a facilitar uma das partes em prejuízo de outra".

Por seu lado, o administrador adjunto para área técnica do Distrito urbano do Patriota, Hermínio Cruz, sem gravar entrevista, rejeita todas as acusações e diz que se tiverem alguma prova contra ele que as apresentem em tribunal".

Da cooperativa o Lar do Patriota, o general Julião Mateus Paulo "Dino Matross" diz que por ter uma formação cristã nunca roubou a ninguém e garante levar à cadeia os autores do que considera ser difamação e calúnia.

"Sou vítima de difamação e calúnia, inclusive abri um processo-crime ao autor, o tal de Sebastião Assurreira, e anda a fugir há dois meses que devia se apresentar em tribunal onde eu e o meu advogado aparecemos, mas ele inventou doença", afirma o general, acrescentando que "no dia 13 deste mês se ele não aparecer, ele vai ser preso, vão à busca dele".

Sobre a acusação de ter usurpado terrenos das camponesas, o antigo secretário-geral do partido no poder respondeu: "Olha bem para minha cara! Tenho princípios religiosos, da forma como estar em sociedade, nunca mexi em coisa alheia".

Sebastião Assurreira é um dos advogados das camponesas da Ana Ndengue e responde não ter medo e que vai continuar a defendê-las.

"Por estas denúncias que fiz, do envolvimento directo do general Dino Matross no espaço das camponesas, e o camarada Dino Matross se esqueceu que foram as camponesas que o solicitaram e era para ser mediador do conflito entre elas e o Lar do Patriota, só que o camarada Dino Matross, ao invés de mediar o conflito, e temos assinaturas dele em documentos, também veio a ocupar terrenos, tudo que disse é verdade, há testemunhas, estou calmo, não vou desistir, tenho compromisso com estas camponesas até ao fim", afirma Sebastião Assurreira, quem diz aguardar a decisão do tribunal.

O general Dino reitera ter comprado o espaço e que o mesmo está legalizado.