Angola: “Ataques terroristas” com leituras diferentes

Presidência da República de Angola

Frente de Libertação do Estado de Cabinda classifica as referências ao grupo de "fantasistas”

O anúncio no sábado, 25, por parte do porta-voz do Serviço de Investigação Criminal (SIC) de que um grupo planeava realizar ataques terroristas durante a visita do antigo Presidente americano Joe Biden no passado divide opiniões em Luanda.

Há quem diz que o país está vulnerável ante o terrorismo internacional e também há leituras políticas.

O general na reforma José Sumbo admite que o país "está vulnerável ao surgimento de grupos de ideologia radical” devido à degradação da vida económica e social que Angola vive.

Opinião contrária tem outro general na reforma, Abílio Kamalata Numa, para quem o país tem instituições que garantem a segurança do Estado e que os seis cidadãos acusados não têm capacidade militar para perturbar a ordem pública.

Veja Também Autoridades angolanas dizem ter desmantelado ataque terrorista

Kamalata Numa entende que "60 artefactos não destroem nada, nem uma casa nem uma refinaria, eles têm de ter um exército e tropas treinadas para colocarem isso nos pontos que estão a dizer e que não estão desguarnecidos" e qualifica as declarações do porta-voz do Serviço de Investigação Criminal de “estórias para crianças”.

O também dirigente da UNITA aproveitou para rejeitar o envolvimento do líder da bancada parlamentar do seu partido na acusação contra os seis cidadãos acusados pelo Ministério Público de preparar atos terroristas.

Kamalata Numa exige “uma investigação autónoma” à volta das motivações que estiveram na base da sua citação na acusação.

“Ele como líder e como cidadão pode receber todas as pessoas, aqueles que o MPLA potenciou para passarem nas posições da UNITA”, sustentou.

Liberty Chiaka é citado na acusação como tendo recebido em Luanda o líder do grupo dos acusados “solicitando a este que fizesse alguma coisa, porém, àquele mostrou-se indisponível para ajudar pelo facto de estar ocupado com assuntos do partido, no entanto, cedeu o contacto telefónico de alguém não identificado para que esse os ajudasse a sair de Luanda para cidade do Lubango”.

Embaixada dos EUA remete para autoridades angolanas

O porta-voz do SIC, Manuel Halawia, disse na as autoridades americanas foram informadas de todo o processo.

Em resposta a um pedido de esclarecimento da Voz da América, a Embaixada dos Estados Unidos de Angola e São Tomé, em Luanda, sugeriu que o assunto em causa seja tratado “com as autoridades competentes angolanas para esclarecimentos oficiais sobre o tema em questão”.

Por sua vez, a Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) desmentiu que estivesse associada a uma suposta intenção de um grupo angolano em atacar alvos em Luanda.

“Fantasistas”

Num comunicado assinado pelo seu secretário-geral Jacinto António Télica, a organização considera “fantasistas” as declarações do porta-voz do Serviço de Investigação Criminal (SIC) de Angola, Manuel Halaiwa.

Para a FLEC tais afirmações “demonstram a obsessão doentia crónica das autoridades angolanas em apontarem incessantemente à FLEC toda a responsabilidade, directa ou indireta, do mal-estar da sociedade angolana e do clima de insegurança em Angola”.

“A Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) recorda, uma vez mais, que operamos exclusivamente em Cabinda, sendo Angola outro Estado em que a FLEC não se envolve nos seus problemas internos”, refere o documento.