Como a Voz da América noticiou na sexta-feira, 19, o Governo angolano vai colocar em discussão pública uma estratégia do desenvolvimento chamada "Angola 2050", que, na sua parte económica e empresarial, apresenta desafios ambiciosos, para, como diz o documento, proporcionar condições, para que haja uma competição saudável entre o empresariado e que promova o surgimento de outras empresas, sem ligações ao Estado.
Num cenário bastante centralizado como o da economia angolana, especialistas adicionam ideias a esse debate.
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O especialista em gestão de políticas públicas e também deputado pela bancada da UNITA David Kissadila diz que o cenário micro, das pequenas e macro empresas é assustador, o espectro dos monopólios que ensombrava a economia angolana foi banido, mas vai dando lugar a outros grupos empresariais ligados ao regime.
Ele sugere que o Governo aposte em "incentivos fiscais, em facilitar os financiamentos bancários com taxas de juros reduzidas e até bonificadas
nalguns casos, na criação de zonas prioritárias", por exemplo.
"Encontramos províncias com muitos recursos, mas o empresariado não vai lá por que não há vias de acesso a essas localidades, a matriz comunista do Executivo o impede que adopte uma economia de mercado livre", acrescenta Kissadila, que reconhece até que "tentam fazer um esforço, imitar, mas a essência na prática os denuncia, não há experiência".
Ouvir as comunidades
Ovídio Pahula, professor universitário e antigo deputado do MPLA, no poder, chama a atenção para que programas destes tenham em conta os académicos nacionais que conhecem a realidade das comunidades.
"Em relação a esta questão das empresas, temos que ser pragmáticos, quem são as pessoas que têm acesso ao crédito em Angola? Vai ver nas zonas das praias quem lá se encontram? As empresas nacionais quase não conseguem ter acesso ao crédito, isto é que se deve discutir!", aponta Pahula, para quem "não bastam programas que no papel são até bonitos mas, não passam disso".
Veja Também Governo angolano projecta 2050 com maior peso do sector privado e menos dependência do petróleoEle diz ser sempre céptico porque " falta diálogo inclusivo, os problemas das comunidades devem ter solução local, ouvir as próprias pessoas lá"
O também especialista em Finanças Públicas e professor universitário Eduardo Nkossi aponta o que para ele está errado.
Mudança de dono dos monopólios
"Os próprios dirigentes do país se tornaram empresários, com capital retirado do erário público, era assim na era de José Eduardo dos Santos, veio João Lourenço e mantém mantém o mesmo plano que acabou com o monopólio que havia e criou outros grupos que praticamente estão ligados ao Executivo", diz aquele professor que aponta caminhos a seguir para que a tal estratégia tenha sucesso.
"A distribuição do capital proveniente do financiamento de todos, não deve ir para meia dúzia de indivíduos, isto faz emperrar o país, as pessoas que saem das universidades devem encontrar a possibilidade de financiamento, para conciliar o que aprenderam na escola com a realidade, Ggoverno apenas facilita a criação de empresas através de políticas públicas criadas", concluiu.
Ao fazer a apresentação do documento na sexta-feira, 19, o ministro de Estado e da Cooordenação Económica reconheceu que o exercício do planeamento de longo prazo “é um processo complexo” sobretudo porque envolve uma variável incerta que é o futuro .
“É sempre muito difícil fazer previsões com exactidão para período muito afastados do presente”, disse Manuel Nunes Júnior quem defendeu ser preciso neste exercício “ter em consideração os cíclo políticos de governação que, num sistema democrático, não são variáveis e fáceis de serem previstas porque há sempre o princípio da alternância política”.
Ainda assim, afirmou não haver dúvidas de que a definição de uma estratégia de longo prazo até 2050 “é crucial para o nosso país”.