O Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder na África do Sul, confirmou nesta terça-feira, 13, ter exigido a renúncia do Presidente da República Jacob Zuma, sem, contudo, definir uma data para o cumprimento desta decisão.
Ace Magashule, secretário-geral do ANC, adiantou que Zuma terá pedido entre três e seis meses para deixar o poder, mas as negociações continuam.
Analistas ouvidos pela VOA dizem, no entanto, que o processo pode não ser tão simples, levar meses e terminar em eleições antecipadas.
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Jacob Zuma é alvo de mais de 800 acusações de corrupção relativa a contratos de armas do final da década de 1990 e também é investigado por supostamente ter usado o Estado para favorecer empresários com concessões públicas milionárias.
Hoje um grupo de pessoas pediu ao Tribunal Constitucional que decrete que o Parlamento “não faça uma nova votação de não confiança”.
Em causa, diz que analista e professor universitário André Thomashausen, está o facto de “ainda o Parlamento não ter resolvido a questão legal” da Constituição, que não prevê os crimes pelos quais o Chefe de Estado deve deixar o poder.
Zuma negoceia saída
Neste momento Jabo Zuma está a negociar a sua saída, e agora o ANC depende dele.
António Ramos, analista político, acredita que o Presidente “tenta encontrar uma saída airosa, que o evite inclusive de enfrentar a justiça” porque, segundo diz, “Zuma não tomou as decisões sozinho”.
Para Ramos, ao contrário do que aparenta ser, “os dois lados não estão desavindos mas estão a tentar encontrar uma saída”.
Mas como fica o ANC neste processo?
Para o também jurista Thomashausen, o partido no poder teve “pouca inteligência” no tratamento deste caso que pode desembocar em eleições antecipadas.
“Avançou com uma tomada de posição muito agressiva sem ter os meios para fazer impor a sua vontade e fica agora à mercê da boa vontade de Zuma de aceitar a disciplina partidária”, alertou aquele analista.
Entretanto, caso o Presidente recusar o pedido do ANC o especialista considera que "o partido vai perder muito da sua credibilidade e autoridade porque será forçado a avançar com uma moção de censura que acabará em eleições antecipadas ainda este ano".
“E o ANC não está preparado para eleições”, adverte André Thomashausen.
Eleições não interessam
Por seu lado, António Ramos, acredita que as eleições não interessam a ninguém, mas a oposição tem muito mais a perder por encontrar-se num dos seus piores momentos.
“A oposição tem a pior avaliação neste momento, o próprio movimento de extrema esquerda (EFF) que tem 25 deputados no Parlamento, pode perder metade deles, enquanto o ANC perderia pouco mais de dois por cento”, reforça Ramos.
O secretário-geral do ANC reiterou hoje em conferência de imprensa que o partido quer Cyril Ramaphosa na liderança do país, o mais rapidamente possível.