Um dia depois de o presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), ter feito fortes críticas à comunidade internacional, analistas do país fazem leituras diversas.
Domingos Simões Pereira afirmou na quinta-feira, 2, que a comunidade internacional perdeu a mão no país, onde não tem qualquer capacidade de influenciação e respondeu a pedidos do secretário-geral para que o partido se alinhe a determinados princípios, remetendo António Guterres para os “amigos” dele no Mali, na Guiné-Conacri e no Palácio Presidencial em Bissau.
“Vimos a comunidade internacional aflita para tentar recuperar uma capacidade de intervenção que de facto perdeu”, sublinhou.
O especialista em relações internacionais Fernando da Fonseca entende que as afirmações do Presidente do PAIGC têm duas dimensões.
“Uma dimensão que podemos chamar da responsabilização e a outra que é de engajamento: a primeira é que o líder do PAIGC está a colocar nos ombros da Comunidade Internacional uma quota parte da responsabilidade perante os descaminhos que a Guiné-Bissau tomou ao longo dos últimos dois anos, ou seja, no entender de Domingos Simões Pereira a Guiné-Bissau está a caminhar para o não-Estado. E essa situação em grande medida tem uma certa cumplicidade da comunidade internacional porque de alguma forma legitimou um Governo ilegal e, por outro lado, legitimou uma Presidência duvidosa”, explica Fonseca, para quem “numa segunda perspectiva, a da dimensão de engajamento, em certa medida tem a ver com alerta que ele faz à comunidade Internacional sobre os riscos e os perigos que rondam a Guiné-Bissau, sobretudo no que diz respeito à questão das especulações relativamente à existência de organizações criminosas transnacionais que estão a actuar na Guiné-Bissau e em como o país está a tornar-se no reduto de trafico internacional de droga,com o silêncio ensurdecedor da comunidade Internacional”.
Por seu lado, o jurista e analista politico Luís Landim discorda da posição do líder dos libertadores, afirmando que “não se deve considerar que houve assim tanta letargia da comunidade internacional”.
Para ele “é natural que a comunidade tenha um modo típico de acção, não se pode esperar que a comunidade internacional resolva os seus problemas, ela não subsistui os órgãos da soberania”, continua Landim, destacando haver “assuntos que têm que ser resolvidos internamente”.
Ele reconhece que a “comunidade internacional fez muito e posicionou-se de forma correcta, mas pela sua natureza tem algumas limitações”.
No entanto, Luís Landim alinha com uma parte das declarações de Simões Pereira, quando afirma que a “comunidade internacional atingiu pontos de incongruência que lhe retiraram a capacidade de intervenção”.
Neste aspecto, opinião diferente tem Fernando da Fonseca para quem “houve uma correlação de forças dentro da CEDEAO, com interesse de alguns países-membros, que acabaram por determinar a posição de toda a comunidade internacional”.
“Não podemos pensar que a comunidade internacional é uma instância corada de pureza, não, é uma instância que é conduzida pelos indivíduos e esses indivíduos têm os seus interesses particulares, que muitas das vezes acabam, em certa medida, por determinar aquilo que os Estados vão fazer”, sublinha aquele analista político.
Na conversa com jornalistas, Domingos Simões Pereira também apontou baterias a António Guterres quem, segundo ele, disse que o PAIGC precisa de estar alinhado com determinados princípios.
"Vá dizer isso ao seu amigo que está na Guiné Conacri, aos seus amigos no Mali, vá dizer isso a todos os países, incluindo na Guiné-Bissau, ao seu amigo que está no Palácio da República, que não respeita a ordem constitucional da Guiné-Bissau", respondeu o líder do PAIGC, reiterando que o partido está alinhado com o povo e a ordem constitucional.