Analistas políticos angolanos questionam viabilidade da Força Africana em Estado de Alerta

João Lourenço, Presidente angolano, com homólogos na 36a. Assembleia da União Africana, Addis Abeba, 18 Fevereiro 2023

Presidente angolano João Lourenço pediu na Cimeira da União Africana a operacionalização da força, cuja decisão de criação foi tomada em Janeiro

O Presidente angolano pediu na semana passada, em Addis Abeba, Etiópia, a implementação da Força Africana em Estado de Alerta para fazer face ao que chamou de “intensificação das acções terroristas, do extremismo violento e das mudanças inconstitucionais de governos democraticamente eleitos, resultantes muitas vezes da não-aceitação dos resultados saídos das urnas por parte de alguns concorrentes".

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Viabilidade de uma força africana em discussão - 2:23


Ao intervir na 36.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA), João Lourenço referia-se à decisão saída da 14ª Sessão Extraordinária da Assembleia dos Chefes de Estado e de Governo sobre o Silenciar das Armas", realizada em Janeiro.

Esta força, explicou o chefe de Estado angolano, "teria, entre outras, a missão de intervir nos momentos e situações críticas que atentassem contra a estabilidade e segurança de países, regiões e do conjunto do nosso continente, no quadro da arquitetura de paz e de segurança de África".

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Em Angola, o sociólogo João Lukombo Nzatuzola lembra que “uma intervenção militar exige capacidade logística e financeira que permita o desdobramento das forças em tempo útil”, uma realidade que leva aquele académico a manifesta-se céptico quanto à capacidade e disponibilidade de muitos países aceitarem este desafio sob o argumento de que “muitos governos, devido a problemas internos, não têm sido regulares nas contribuições financeiras para a UA”.

O jornalista Ilídio Manuel diz, por sua vez, que algumas rebeliões que se registam no continente resultam de “eleições fraudulentas e de golpes de estado constitucionais”.

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“Resultam da falta de eleições democráticas e de forças armadas apartidárias com capacidade logística e intervenção em tempo útil para desfazer um golpe de Estado militar”, assinala Manuel, para quem, "a nível de África, o Presidente João Lourenço não constitui um exemplo nesse domínio”.

Para o investigador Francisco Tunga Alberto, muitas rebeliões em África são armadas pelos mesmos países que vendem armas aos governos.

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“De dia dão arma ao Governo e de noite dão aos rebeldes”, acusa Tunga.

“Quem são os rebeldes e qual é origem das rebeliões”, interrogou-se aquele investigar que defende “diálogo entre os irmãos” para se dirimir as causas que estão na origem dos conflitos internos e não o uso das armas.

Para o Presidente angolano "as ameaças de instabilidade decorrentes destas tendências socioeconómicas deveriam requerer iniciativas políticas pragmáticas no quadro das perspectivas da paz e segurança do continente para 2023".

Ele disse que Angola está preocupada com "o facto de África continuar a viver uma grave crise económica e social, agravada pela pandemia da covid-19 e pelos efeitos dos conflitos políticos, da intolerância religiosa, étnica e cultural e da fragilização das instituições do Estado".

Por outro lado, são necessárias "soluções pragmáticas e sustentáveis" já decididas pela UA, que "seguramente ajudarão a prevenir o terrorismo e a desencorajar os golpes de Estado que se vão tornando comuns, frequentes e banais em África".