Analistas dizem que o envio de tropas ruandesas pode elevar a tensão entre Pretória e Maputo

Jaime Neto, ministro da Defesa, Moçambique

Ministra da Defesa da África da Sul criticou o envido de tropas.

O destacamento de tropas ruandesas em Cabo Delgado para ajudar as forças moçambicanas na luta contra o terrorismo, pode fazer com que suba ainda mais o tom da tensão entre Moçambique e a África do Sul, que, segundo analistas, não tem boas relações com o Ruanda.

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Analistas dizem que o envio de tropas ruandesas pode elevar a tensão entre Pretória e Maputo

Tropas ruandesas começaram a chegar na passada sexta-feira, 9, a Moçambique, para, a pedido do Governo moçambicano, participar no combate à insurgência em Cabo Delgado.

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África do Sul considera infeliz chegada de tropas ruandesas a Moçambique antes de tropas da SADC

A ministra sul-africana da Defesa, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, criticou, no sábado, 10, a decisão bilateral de Moçambique, afirmando ser "de lamentar" que a chegada de militares do Ruanda "aconteça antes de a SADC ter destacado a sua força".

Mapisa-Ngakula disse que "independentemente do acordo bilateral, seria expectável que a intervenção do Ruanda para ajudar Moçambique acontecesse no âmbito do mandato regional decidido pelos chefes de Estado da SADC".

Articulação

O ministro moçambicano da Defesa, Jaime Neto, garantiu que o destacamento de tropas para Cabo Delgado está articulado dentro da SADC.

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"A nível de militares da SADC, há um planeamento operacional combinado e, naturalmente" o mesmo tipo de planeamento "bilateral pode ser mais flexível. É isso que está a acontecer neste momento com o Ruanda", disse Neto, para justificar a chegada a Moçambique "muito antes da SADC".

A questão de algumas diferenças entre Maputo e Pretória não é de agora, e tende a ser mais perceptível desde que começou o problema de Cabo Delgado e o potencial envolvimento da força regional naquela província.

O jornalista Fernando Lima considera que os diferentes pontos de vista entre os dois países começam, sobretudo, por uma questão inicial em que Moçambique dizia que não precisava de forças, mas apenas de equipamento, o que para a África do Sul não seria possível, porque esse equipamento iria parar nas mãos dos insurgentes.

Linha de comando

"Há um claro mal-estar da África do Sul, uma vez que não explicando abertamente este posicionamento, Pretória acha que, de algum modo, é um pouco exagerada a presença, em paralelo, de um acordo bilateral para uma outra força participar no teatro de operações em Cabo Delgado, e quanto a mim, este mal-estar deriva do mau relacionamento entre a África do Sul e o Ruanda", realçou Lima.

O regime de Kigali tem sido acusado de perseguir os seus opositores que se encontram refugiados na África do Sul.

Lima anotou haver um outro aspecto que tem a ver com o próprio comando da força militar da SADC. Os sul-africanos, por via da ministra da Defesa, disseram, publicamente, que era sua expectativa que essa força fosse comandada por um major-general da África do Sul.

Tensão

Contudo, o entendimento do Presidente moçambique, Filipe Nyusi, é que a força da SADC deve ser comandada por Moçambique. Para Fernando Lima, estas não são diferenças fundamentais.

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Refira-se que o tom da tensão entre Maputo e Pretória tem estado a subir, e os motivos são vários, entre os quais a detenção, na África do Sul, do antigo ministro das Finanças, Manuel Chang, e a expulsão de moçambicanos e muitas outras coisas que distanciam os dois países.

"Há muitos aspectos que Moçambique questiona no seu relacionamento com a África do Sul, sobretudo no domínio económico-comercial; e há uma tensão também que sobe de tom a partir do momento em que a África do Sul, como potência regional, não teve uma participação no projecto de gás natural em Cabo Delgado", disse o analista Calton Cadeado

Mas Jaime Neto frisou que "as relações entre Moçambique e a SADC estão a atravessar o melhor momento" assim como "as relações com a África do Sul", dizendo que pode ter havido "problemas de comunicação que resultam de interpretações que suscitam algumas dúvidas" - prometendo passar a dar mais informação para evitar "equívocos".