A queda do peso da indústria moçambicana no Produto Interno Bruto (PIB) nacional faz com que Moçambique esteja pouco preparado para a concretização do Acordo de Comércio Livre em África (AfCFTA), dizem analistas.
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Um estudo promovido pela parceria que reúne empresários e líderes políticos africanos, a The AfroChampions Iniciative, divulgado, esta semana, indica que os países africanos de língua portuguesa estão pouco empenhados na concretização do AfCFTA, e pouco preparados para o aplicar.
O estudo foi produzido antes de o continente africano ser atingido pela pandemia da Covid-19.
Veja Também Forças moçambicanas combatem Estado Islâmico em Cabo DelgadoPara analistas, o fraco empenho de Moçambique na concretização deste acordo, deve-se, em grande medida, ao facto de serem menores as trocas comerciais que o país faz na sua relação com os países africanos e maiores para fora de África.
Ou seja, para além da relação com a vizinha África do Sul, Moçambique troca muito pouco com o resto dos países africanos.
"Isto justifica o fraco interesse de Moçambique num comércio livre africano, porque abrir mais para outros países enquanto a própria estatura da economia não está preparada para a competição, o prejudicado sempre será a economia doméstica", disse o economista e docente universitário, Constantino Marrengula.
Constantino Marrengula realçou que olhando para aquilo que é a estrutura do PIB de Moçambique, neste momento, "nota-se que houve uma tendência de queda do peso da indústria, o que pode ser explicado pela abertura ao comércio Internacional, porque passou a ser fácil importar, por exemplo, da China e de outros países asiáticos".
Veja Também Economistas moçambicanos questionam a sustentabilidade da divida defendida pelo FMIFonte governamental disse, entretanto, que Maputo está empenhado em concretizar o Acordo de Comércio Livre em África, sendo prova disso, a aposta na política de industrialização, como indica o Plano Quinquenal do Governo".
Mas para Constantino Marrengula, sem ter a certeza do que vai acontecer com a zona de comércio livre, Moçambique não vai ter muito interesse nisso, acrescentando que mesmo no âmbito da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), " é de duvidar que o país tenha ganhos com a abertura à comunidade".
Marrengula fez notar que "Moçambique passou a ser importador líquido de muita coisa em relação à África do Sul, e a própria África do Sul que deveria ser líder no processo de integração regional, não parece estar disposta a fazer sacrifícios para que essa integração seja efectiva, pelo que é provável que na zona de comércio livre africana, as economias mais fortes estejam interessadas em engolir os outros e não em promover um processo de integração com ganhos para todos".
Por seu turno, o analista Francisco Matsinhe entende que enquanto Moçambique e outros países lusófonos não tiverem uma estrutura económica forte para enfrentar a competição dos outros, dificilmente vão aplicar o Acordo de Comércio Livre em África.
"A indústria africana desapareceu e é por isso que o comércio inter-africano é muito fraco, e deve andar na ordem dos 16 ou 17 por cento, sendo por isso que ao nível da SADC foi lançado, há cerca de cinco anos, um projeto para a industrialização da região, para diminuir a importações fora da SADC e aumentar o consumo de produtos da comunidade", realçou Francisco Matsinhe.
O estudo sobre o acordo de comércio livre foi divulgado numa altura em que cresce a preocupação do sector privado quanto a um possível adiamento da sua entrada em vigor oficial, em 01 de Julho.