O ministro moçambicano da Defesa Nacional, Jaime Neto, anunciou, há duas semanas, a morte, na vila de Macomia, de 78 membros do grupo armado que há mais de dois anos vem aterrorizando a província de Cabo Delgado.
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Neto acrescentou, na altura, que dois dos "terroristas" abatidos eram quadros superiores do grupo.
Ante o aumento da intensidade dos combates e a morte daqueles líderes dos insurgentes, analistas alertam para a possilidade de um grande ataque de vingança por parte dos atacantes, sobretudo se as Forças Armadas Moçambicanas relaxarem na sua ofensiva contra o grupo.
Para o académico Calton Cadeado, quando se está perante uma situação destas, em que morrem muitas pessoas, algumas das quais são figuras destacadas, "você tem dois cenários: ou retalia para mostrar que ainda está vivo e tem força ou fica no silêncio durante um bom tempo a preparar a vingança".
Ele explica que isso pode acontecer "se as Forças Armadas relaxarem na sua ofensiva, mas se mantiverem a pressão permante, a possibilidade de os insurgentes fazerem um ataque de vingança, tão cedo, é muito pequena porque vão passar mais tempo a fugir no lugar de preparar ataque de vingança".
Destruição de propriedades
Cadeado referiu que em eventuais ataques de vingança, a estratégia dos insurgentes poderá ser a destruição das propriedades, dado que muitas aldeias e localidades ficaram abandonadas, por causa dos ataques.
"Eles poderão fazer isso se sentirem que há um relaxamento da parte das Forças de Defesa e Segurança", destaca aquele académico.
Refira-se que o mais recente ataque a uma vila foi no dia 28 de maio, em Macomia.
Na opinião daquele investigador, os insurgentes denotam alguma fraqueza, "porque em situações destas, como aconteceu com Bin Laden, por exemplo, a primeira coisa que os terroristas fizeram foi publicar um vídeo a fazer ameaças de retaliação e até de mobilizar os outros. Em Cabo Delgado morreram dois líderes do grupo e nós não vimos nenhuma acção como esta".
"Este silêncio pode significar que os insurgentes estão altamente fragilizados e zangados, mas também pode ser um sinal de que eles não têm um plano de mobilização para puderem fazer a vingança como eles gostariam de fazer pela morte desses dois companheiros seus", conclui Calton Cadeado.
Por seu turno, o presidente do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), Raú Domngos, considera que o grupo ainda está ativo, pelo que "é preciso que os nossos Serviços de Informação e Segurança do Estado reforcem o seu trabalho, principalmente para garantir a segurança do Estado".
"A vulnerabilidade que estamos a ver em Cabo Delgado põe a nú a natureza dos nossos Serviços de Informação e Segurança do Estado. Os insurgentes devem ser combatidos por uma força militar, mas mais do que uma força militar é preciso que haja também um trabalho muito forte de inteligência para conhecer a natureza, organização e a logística dos insurgentes", realça o líder do PDD, .
No mesmo sentido, o analista Manuel Alves entende também ser importante investir na questão da inteligência "porque o conflito começa já a assumir contornos incontroláveis".