Amílcar Cabral: 100 anos e sonhos por se cumprirem

Imagem de Amílcar Cabral, com a "balalaica" da Fundação Amílcar Cabral, Praia, Cabo Verde

Amílcar Cabral, líder da libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde, comemoraria hoje 100 anos.

Amílcar Cabral, o líder da luta pela Independência da Guiné-Bissau, onde nasceu, e de Cabo Verde, onde cresceu, faria hoje 100 anos. O secretário-geral da ONU, António Guterres destacou "o prestígio universal de Amílcar Cabral". Muitos dos seus sonhos continuam por cumprir-se.

Cabral é considerado por historiadores, estudiosos e políticos uma das mais maiores figuras do nacionalismo africano. Cabral liderou a luta no campo militar, diplomático e ideológico até ser morto por um dos seus guarda-costas a 20 de Janeiro de 1973, um mistério que ainda continua por desvendar-se.

Nos seus muitos escritos, Amílcar Cabral redigiu vários objetivos para o desenvolvimento e o bem-estar dos povos guineense e cabo-verdiano.

Engenheiro agrónomo de formação, Amílcar Cabral vislumbrava a agricultura como um ponto fulcral para o desenvolvimento económico, e para a emancipação política e social.

Fomentando a educação, considerava a auto-suficiência, juntamente com a agricultura, bases da reconstrução dos países pós-coloniais. Nos seus escritos acusava já preocupação com o impacto das alterações climáticas no país.

O ainda fundador do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) foi recebido pelo Papa Paulo VI no Vaticano em 1970.

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África Agora: O legado de Amílcar Cabral

Sonhos por cumprir

As ideias de Amilcar Cabral “são suficientemente generosas, profundas e abrangentes para que não possam ser realizadas por uma única geração”, afirmou Carlos Reis, antigo companheiro de armas do líder da luta pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, numa convers com a VOA em 2022.

O primeiro ministro da Educação de Cabo Verde, entre 1975 e 1981, acredita que “as gerações vindouras hão-de continuar por esse caminho” que ainda é longo. "Ainda hoje um símbolo forte da luta dos povos que ainda sofrem e dos que se consideram espoliados de qualquer forma, da luta que os pobres, também precisam fazer, assumindo a sua auto-responsabilidade, como Cabral falava, procurando caminhos da paz, do amor ao próximo e da solidariedade”.

Os sonhos de Amílcar Cabral, segundo o antigo professor da Escola Piloto do PAIGC em Conacri, não estarão realizados "enquanto houver pobreza, que atinge a dignidade das pessoas”.

Cinquenta e um anos depois da sua morte, Cabral continua a ser estudado e também a ter impacto na música que se faz hoje, como explica Angelo Barbosa, diretor do Instituto Pedro Pires para Estudos Cabo-verdianos, adjunto à Universidade Estatal Bridgewater.

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O impacto de Amílcar Cabral na música

"O prestígio universal de Amílcar Cabral"

Lideradas pela Fundação Amílcar Cabral, as celebrações do centenário de Cabral, principiaram no começo de 2024, com inumeros eventos. O secretário-geral da ONU, António Guterres, assinalou a data.

No simpósio internacional Amílcar Cabral - um património nacional e universal, que ocorre em Cabo Verde e na Guiné-Bissau, Guterres disse que "o prestígio universal de Amílcar Cabral deve-se ainda, e em grande parte, à riqueza e profundidade da sua produção intelectual e as suas reflexões continuam ainda hoje a inspirar estudiosos em diversos domínios do conhecimento, bem como mulheres e homens das letras e das artes.", afirmou numa mensagem de vídeo para a abertura do Simpósio.

Também durante a abertura, o Presidente da Republica de Cabo Verde, José Maria Neves, disse que Cabral é "um património da humanidade", e que a sua influencia vai para além das fronteiras das ilhas. "Ele é tão grande que extravasa as fronteiras de África. Não faz sentido limitá-lo a partidos ou nações."

De recordar que as comemorações do do centenário de Amílcar Cabral foram alvo de polémica e discussão pública em Cabo Verde e na diáspora depois de a Assembleia Nacional de Cabo Verde ter rejeitado o projeto-de-resolução sobre a celebração oficial do centenário de Amílcar Cabral. Mais tarde, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, prometeu "dignidade e representatividade" nas comemorações do centenário do nascimento de Amílcar Cabral.

A Fundação Amílcar Cabral concretizou ainda uma parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para a inscrição dos escritos de Cabral no arquivo de Memória do Mundo e inclusão da data 12 de setembro nos aniversários de personalidades apoiados pela UNESCO.

O antigo Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, e também presidente da Fundação Amílcar Cabral, na cidade da Praia, falou com o correspondente da Voz da América, Eugénio Teixeira, sobre a importância de Amílcar Cabral na conquista pelas independências dos povos africanos.

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Centenário Amílcar Cabral: "Temos que ter o espirito da possibilidade", diz Pedro Pires

Amílcar Cabral nasceu a 12 de Setembro de 1924, em Bafatá, na Guiné-Bissau, e foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973, em Conacri, Guiné.