Em Benguela, agentes da Polícia Nacional voltaram a efectuar vários disparos para dispersar centenas de munícipes do bairro Viva a Paz que registou recentemente três mortes em consequência de conflitos de terra.
Apesar da tensão, os populares continuam de pedra e cal no bairro a defendendo terras para a autoconstrução dirigida.
Em sentido contrário, as autoridades dizem que o espaço faz parte da reserva fundiária.
Your browser doesn’t support HTML5
Desta vez, de acordo com o relato de testemunhas, não há vítimas a registar, embora existam queixas de violência na actuação das forças da ordem.
Os disparos deram lugar a uma correria nunca antes vista, com populares fugindo para pontos que ofereciam segurança, enquanto os agentes da Polícia avançavam para os terrenos em disputa.
“Desceram do carro e, sem conversa nenhuma, dispararam várias vezes para o ar. Fomos obrigados a fugir, eram quatro a disparar enquanto outros estavam no carro. Depois foram para os nossos terrenos, que os funcionários da Administração da Zona, liderados pelo Manuel Catumbela, querem negociar”, disse uma testemunha que pediu o anonimato.
Três anos após um processo de delimitação de terras no Viva a Paz, ao lado do novo mercado informal, com a Administração da Zona a concessionar a favor de populares e de empresas, ninguém consegue erguer uma casa.
Os cidadãos afirmam que altos funcionários da Administração tencionam vencer todo o espaço a empresários de renome.
Cada lote custa 400 mil Kwanzas, cerca de dois mil dólares, um valor fora do alcance do cidadão comum, disposto a ir até às últimas consequências.
“Já mataram três irmãos nossos. Somos por aí mil pessoas, estamos todos os dias a vigiar esta área. Os terrenos são nossos porque a parte da Administração já foi utilizada, por isso não percebemos a razão deste conflito”, prosseguiu outro cidadão.
No único pronunciamento a respeito do assunto, o Governo de Benguela explicou que os agentes que dispararam há duas semanas, matando três pessoas, agiram em legítima defesa.
A justificação viria a ser questionada pelo jurista David Mendes, advogado das famílias das vítimas.