Agenda do MPLA, com foco nas comunidades, vista por analistas como réplica de velhas promessas

Luísa Damião, vice-presidente do MPLA, Angola

Na apresentação da agenda política 2023, no passado dia 11, o MPLA, partido no poder em Angola, reafirmou o compromisso com o lema “trabalhar mais e comunicar melhor”, mediante acções permanentes nas comunidades, perante um ambiente de descrença em sectores da sociedade que falam em promessas de várias décadas.

O aprofundamento da democracia interna constitui outro ponto de uma agenda com 10 eixos, numa altura em que analistas políticos questionam o sentido crítico e a inexistência de alternativas na corrida à liderança do partido.

Em declarações à imprensa, concluído o discurso para centenas de militantes que acorreram ao Kuito, província do Bié, a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, resumiu os desafios com referências ao lema anunciado após as eleições de 2022.

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“Temos uma responsabilidade muito grande, um compromisso muito grande porque os angolanos renovaram a confiança no MPLA e no seu líder, dando maioria absoluta, e vamos governar com o povo, estar mais nas comunidades, mais atenção à diáspora e mais democratização interna”, anuncia Luísa Damião.

O analista político Osvaldo Caholo considera normal que os dirigentes do partido no poder façam promessas, mas diz que o país está nesta rotina há quase 50 anos.

“O grande problema é que nós esperamos algo diferente , o MPLA está a materializar a miséria, retirou a educação, a cultura, asfixiou as liberdades, tornou o Estado sua pertença”, indica aquele académico, acrescentando que “este partido já não tem nada para dar, pior é que, 47 anos depois, alguém diga, sem vergonha, que o país tem rumo”.

Quanto ao reforço da democracia interna, o jornalista Ramiro Aleixo realça que os “camaradas” não vão a lado nenhum sem coragem para se questionar a prestação do presidente e chefe do Executivo

“É necessário, primeiramente, varrer essa subordinação ao medo, o medo do chefe, do líder. Por isso, para mim, é o mais do mesmo, aquilo depois vira uma prisão, as pessoas têm medo de opinar”, salienta aquele analista político, perguntando se “alguma vez o Presidente João Lourenço foi questionado sobre os vários erros que comete, sobre a miséria que anda por aí”.

Numa recente entrevista à VOA, o militante António Venâncio, engenheiro civil, que viu chumbada a sua candidatura à presidência, salientou que "a falta de alternativas demonstra o nível de democracia no MPLA".

Promover o controlo da execução da despesa pública e estimular o crescimento social e económico são outras metas da agenda do MPLA para um ano que leva já três meses.