A Polícia Nacional (PN) de Angola fechou os acessos ao bairro das Salinas, arredores da cidade de Benguela, capital da província angolana com o mesmo nome, para viabilizar demolições de casas, um posto de saúde e uma escola, ocorridas em mais de cinco horas de agitação na via pública.
A coordenação do bairro informa que as máquinas pesadas da Administração Municipal partiram mais de 100 casas, num ato que considera desumano para famílias agora ao relento, vítimas de um longo conflito de terras.
Um cordão de segurança com dezenas de agentes e cavalos afastava populares e viaturas para bem longe do espaço, perante a resistência de quem pretendia saber do estado de familiares bloqueados nas ‘’Salinas’’.
“Chegamos agora, não sabemos de nada, queremos falar com as nossas famílias. Aí partiram tudo, não ficou nada’’, desabafam, em lágrimas, cidadãs que acorreram ao bairro.
Declarações recolhidas pela VOA à chegada, depois da detenção do jornalista do jornal Manchete, Paulino Sangueva, conduzido para uma esquadra policial, segundo testemunhas.
Do interior do bairro, poucos minutos depois, chegava o ponto de situação com a coordenadora, Maria Almeida, que conseguiu furar a cerca policial.
‘’O cenário é mesmo de demolição, mais de cem casas, se contarmos com as obras são trezentas, o posto e a escola. Isso é desumano, tiraram as pessoas e estão ao relento, as coisas desapareceram’’, descreve a ‘’dona Jamba’’.
Os políticos Armindo Sardinha, do Bloco Democrático, e Martins Domingos, da CASA-Ce, criticaram a ação da Polícia, ocorrida três dias depois de uma manifestação contra o que ativistas cívicos chamam de violência policial.
‘’Certamente que assistimos a uma atrocidade cometida pelas autoridades, que é do conhecimento do senhor governador’’, refere Sardinha, ao passo que Domingos lamenta que ‘’as pessoas tenham sido corridas das suas casas e atiradas para matas, como se fosse em tempo de guerra’’.
O advogado das famílias desalojadas, José Faria, já veio a público anunciar que vai recorrer de um ato que considera “ilegal”.
Apesar de contatadas, nem a Administração Municipal de Benguela nem a Polícia emitiram as suas versões.
O posto de saúde e a escola, não reconhecidos pelas autoridades, foram erguidos graças a contribuições da comunidade.