Três activistas cívicos angolanos queixam-se de perseguição política, como intimidações, cortes salariais e ameaça de transferência forçada de local de serviço, na sequência da manifestação contra o governador provincial de Benguela, Rui Falcão Pinto de Andrade, devido à demolição do bairro das Salinas.
Após ter cumprido um mês de prisão efectiva por desacato à autoridade, Émerson Marcos, professor, diz que tais ameaças acabam por dar motivação na luta por causas sociais, tal como as activistas Sara Paulo e Delfina Silvano, igualmente professoras do sector público.
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Ambas estiveram na manifestação em que os participantes gritaram pela
exoneração de Rui Falcão, há duas semanas, ainda antes da carta aberta
a caminho do Presidente da República, com esse pedido, e dizem que foram confrontadas com orientações para mudança da cidade de Benguela.
Admitindo que o pior tenha passado, a activista Sara Paulo associa uma possível transferência de posto de trabalho aos protestos que visavam ainda pedir a libertação do colega detido ao filmar as demolições e afirma que a democracia vai mal em Angola.
Veja Também Forças Armadas de Cabinda anunciam novos combates que terminaram com 10 mortos"Ainda não fomos convocadas, nem assinámos nada. Mas soubemos
de fonte segura na Repartição (de Educação) que o senhor governador
tinha pedido as nossas guias, orientando as nossas transferências ao director Calopa", disse Sara Paulo.
"Isto demonstra que a nossa democracia anda doente, os líderes não convivem com a crítica, com as liberdades e com a fiscalização do povo’’, afirma a activista.
Veja Também Organizações angolanas pedem reforma profunda do Conselho Nacional da JuventudeJá em liberdade, Émerson Marcos lamenta o ambiente de perseguição,
apontando para agentes dos Serviços de Investigação Criminal, e sublinha que prefere esquecer que é quadro da Educação: "Vou continuar a lutar para ajudar pessoas, mesmo sabendo que a perseguição política vai continuar a existir. Posso provar, existem mensagens de investigadores procurando saber da minha vida… quanto a salários, é melhor esquecer que sou professor, os
salários não são pagos há muito tempo’’, denuncia Marcos.
Contactado pela VOA, primeiro para o caso das senhoras, o director do
Gabinete Provincial de Educação e Ciência, Evaristo Calopa, disse desconhecer qualquer transferência, mas condicionou uma entrevista à recepção de excertos das declarações da activista.
A denúncia de Sara, como prometido, foi enviada a Calopa, mas a reacção,
pelo menos até à hora em que expedíamos esta peça, não tinha sido gravada.
Para o caso de Émerson, um responsável da Delegação Provincial do Interior, considerando ser "uma situação grave", disse esperar que sejam apontados os efectivos do SIC.