Alguns analistas angolanos têm considerado a situação sócio-económica como estando na base dos conflitos que ocorrem em zonas onde há muita riqueza natural e cujos residentes não se beneficiam da sua extração e comercialização.
Esta, segundo muitos, é a causa dos confrontos na vila mineira de Cafunfo, na província da Lunda Norte, mas também em Cabinda em no Zaire.
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Activistas locais que lutam pela melhoria da vida das populações e respeito pelos direitos humanos, apontam o dedo ao Governo angolano que não consegue se responsabilizar pela miséria que ele mesmo cria nos territórios onde se produz riqueza.
Alexandre Kwanga Nsitu, coordenador da Associação para Desenvolvimento da Cultura e Direitos Humanos de Cabinda (ADCDH), manifesta estranheza pelo facto do Executivo arranjar sempre subterfúgios para a real situação em que vivem as pessoas de zonas como as Lundas, Cabinda e Zaire”.
O activista entende que o que se passou em Cafunfo é uma estratégia para criar o pânico junto das populações dessas localidades onde há muita riqueza mas os seus habitantes são bastante pobres.
"Eu fico admirado ao ver que o Governo não consegue se responsabilizar pela miséria que ele mesmo cria nos territórios onde se produz riqueza, eu penso que isso é uma estratégia para espalhar o medo junto das pessoas, para silenciá-las da luta que fazem pela sobrevivência", sustenta Nsitu, para quem essa situação pode levar a convulsões populares.
"Cada vez mais, as pessoas sentem-se asfixiadas, aqui em Cabinda há 45 anos que não beneficiamos da riqueza do petróleo explorado aqui, isto a qualquer momento pode provocar levantamentos populares porque as pessoas já estão saturadas", conclui.
Na província do Zaire, rica em petróleo, o activista cívico Raul Paulo afirma que a situação não difere muito da que vivem as pessoas nas Lundas e em Cabinda.
Paulo diz que “a miséria extrema que estamos mergulhados é a mesma que leva de quando em vez à reclamação de populares, mas os políticos sempre colocam a polícia e as forças armadas contra quem se manifesta, o que pensa ter ocorrido em Cafunfo”.
Raul Paulo conta que ele mesmo foi vítima da brutalidade policial, quando tentava sair à rua para exigir melhores condições sociais no Soyo.
"Fui notificado pela polícia de emigração, do SIC, dos bombeiros, da PGR, que cercaram a minha casa das 10 às 12 horas, com ameaças e alegações segundo as quais o momento não era oportuno para se manifestar e se insistisse tinha que assinar um documento no qual assumia as responsabilidades do que dali resultaria”, lembra Paulo.
O activista do Soyo acusa as autoridades de utilizar “todo o tipo de barreiras para que populações como das do Zaire, das Lundas, de Cabinda, onde há exploraçao de riqueza nunca se desenvolvam”.
Essas manobras, conclui, “visam levar as pessoas a desisitrem, mas aqui no Soyo não vamos nos intimidar nem vamos recuar de lutar pelo nossos direitos mesmo contra essas políticas maquiavélicas do regime.
Cerca de 300 manifestantes, convocados pelo Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe, tentavam realizar uma marcha no dia 30 de Janeiro para pedir diálogo com o Governo quando foram impedidos pelas forças de segurança que alegaram que pretendiam invadir a esquadra da polícia local, o que é refutado pelo Movimento.
Dos confrontos, resultaram seis mortes, segundo o Governo, 10 de acordo com a Amnistia Internacional e 23, num balanço apresentado pelos grupos parlamentares da UNITA, CASA-CE e PRS.