Activistas cívicos angolanos dizem esperar respostas e reações do Governo ao colapso parcial de uma secção do Canal do Cafu, que integra o Sistema de Transferência de Água do Rio Cunene, inaugurado há menos de um ano pelo Presidente João Lourenco e apontado como parte importante da solução da seca no sul do país.
Eles também questionam a qualidade da obra.
Como resultado da queda de mais de 20 metros do muro protector a água da chuva carregada de areia resvalou para o leito do canal inviabilizando o seu curso normal.
A primeira fase do projecto custou aos cofres do Estado cerca de 137 milhões de dólares e foi concebido para combater a seca severa em benefício de um total de 230 mil habitantes e 255 mil cabeças de gado naquela região sul do país.
O jornalista Ilídio Manuel, que recentemente visitou o canal, diz que a fragilidade da infraestrutura era visível.
“As margens de betão não oferecem qualquer segurança e era uma obra que tinha sido feita às pressas por razões eleitoralistas”, sustenta Manuel.
Para o ambientalista Bernardo Castro, a concepção de obra “não obedeceu aos critérios de sustentabilidade”.
Por seu lado, o conhecido padre dos Gambos, Pio Wacussanga, interroga-se “se a construção do canal era mesmo prioritária ou se havia alternativas para se mitigar as consequências da seca na região”.
Ele também aponta o facto de ter sido feito em tempo pré-eleições.
O Instituto Nacional de Recursos Hídricos do Ministério da Energia e Águas alegou que “houve deslocamento de placas numa das secções do Canal Condutor Geral do Cafu” estando já no terreno uma equipa de especialistas para reparar os danos provocados”.
O Canal do Cafu é um projecto concebido pelo Executivo, no âmbito do Programa de Combate aos Efeitos da Seca no Sul do país, e consiste num sistema de captação e transferência de água do rio Cunene para várias povoações, através de um canal adutor com 160 km de extensão, ao longo dos quais foram construídas 30 chimpacas (locais para abeberamento do gado), com capacidade para 30 milhões de litros cada.
A UNITA também pediu esclarecimentos ao Governo e disse que vai convocar os ministros responsáveis para responder no Parlamento.