O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da África (CDC-África), que declarou recentemente o surto de Mpox em andamento como uma emergência de saúde pública, disse que o continente precisará de 10 milhões de doses de vacinas para impedir a disseminação da doença.
Especialistas, no entanto, afirmam que a escassez global de vacinas contra a doença afetará qualquer campanha de vacinação na África.
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Especialistas pedem produção de vacinas por países africanos.
O professor e virologista da Escola de Medicina Nelson Mandela em Durban, África do Sul Salim Abdool Karim diz que atualmente existem três tipos de vacinas para mpox, e todas são difíceis de obter.
Veja Também Autoridades angolanas em alerta máximo contra Mpox"Elas não estão disponíveis e, se as empresas começarem a fabricá-las agora, levará um bom tempo até que as doses estejam disponíveis, a segunda é que elas são muito caras, são vendidas entre 100 e 200 dólares a dose, e são necessárias duas doses para todos", aponta Karin, alertando que "é uma vacina muito cara”.
Mpox, formalmente conhecida como varíola dos macacos devido à sua descoberta original em macacos na Dinamarca, foi encontrada pela primeira vez em humanos em 1970 na República Democrática do Congo,o epicentro do surto atual.
O professor Karim diz que a Mpox, que antes não representava problemas sérios de saúde, tem sofrido mutações e a cepa atual é preocupante, especialmente para a população mais jovem, mais vulnerável.
“Se não for controlada, veremos o Mpox espalhar-se muito rapidamente, a razão é porque agora é sexualmente transmissível. Vimos noutras infecções sexualmente transmissíveis, como HIV e assim por diante, que as infecções sexualmente transmissíveis podem se espalhar amplamente na África”, sublinha aquele especialista.
Desde julho, casos de Mpox foram detetados na República Democrática do Congo, Congo Brazaville, Burundi, Quénia, Ruanda e Uganda.
O Quénia registou dois casos e espera receber doses de vacina como parte do esforço internacional para interromper a transmissão da doença.
O diretor geral de Saúde diz estar preocupado com a escassez global de vacinas.
“A África precisa de 10 milhões de doses, até ao final do ano podem estar disponíveis apenas dois milhões de doses, se a Bavarian Nordic, a fabricante da vacina, redirecionar sua capacidade de fabricação para interromper a fabricação ou reduzir a fabricação de outras vacinas e priorizar a a vacina contra a Mpox, em termos de prioridade, é claro que será atrelado ao número de casos que cada país tiver", aponta Patrick Amoth.
Aquele responsável admite que Quénia, com dois casos, não é prioridade, no entanto diz não haver motivo para alarme, porque o país colocou em prática medidas para lidar com o surto da doença.
“Aumentamos a nossa coordenação através da operacionalização do Centro de Operações de Emergência de Saúde Pública, formamos equipas de resposta rápida para apoiar os condados em termos de rastreio de contatos e outras logísticas necessárias, incluindo a gestão de casos", conta Patrick Amoth.
Ante esta realidade, o professor e virologista Salim Abdool Karim diz que os países ricos podem estar a acumular as vacinas disponíveis numa tentativa de preservá-las para seus cidadãos.
Por isso, ele desafia os governos africanos a avançarem para o desenvolvimento da suas próprias vacinas localmente.
“Estou bastante convencido de que se os cientistas africanos juntarem suas cabeças, podemos fazer uma vacina contra Mpox e fabricá-la aqui mesmo na África. Não é ciência de foguetes. Só se precisa que os investimentos sejam feitos para isso", defende Karin.
Enquanto a espera pelas vacinas continua, especialistas em saúde dizem que testes, rastreio de contatos e educação das pessoas constituem a melhor estratégia para lidar com o surto na África, pelo menos por enquanto.
Por Juma Majanga, Nairóbi