Em Moçambique, alguns analistas dizem que não havia necessidade de "tanta fraude com tanto descaramento, porque a Frelimo ganharia as eleições do passado dia 15, não só pela situação do próprio partido, como também pela fragilidade da oposição".
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O académico João Mosca, diz que enquanto a oposição não tiver a capacidade de acompanhar todo o processo eleitoral, incluindo a fase preparatória, e se mantiver a actual composição dos órgãos eleitorais, que dá à Frelimo uma maioria de membros nesses órgãos, por causa do critério da proporcionalidade, será difícil haver eleições livres, justas e transparentes em Moçambique.
Mosca, docente universitário e director-executivo do Observatório do Meio Rural, afirma que, para além disso, deve haver uma maior acção das organizações da sociedade civil, na mobilização dos cidadãos para que votem com base em coisas concretas e não por meras promessas eleitoralistas.
No seu entender, os órgãos de comunicação social moçambicanos também têm um papel importante neste aspecto, "mas o que se passa é que, quase todos esses órgãos, estão, de algum modo, capturados pelo partido no poder e não fazem uma cobertura eleitoral equilibrada".
"Tudo isso são correções que devem ocorrer, mas o problema é que, com a actual situação, e conhecendo a natureza dos partidos políticos da oposição e da própria Frelimo, que é um partido dominante, essas mudanças, muito dificilmente, podem acontecer dum momento para outro", destaca Mosca.
O académico sublinha que o que pode haver "são situações menos evidentes e estratégias mais camufladas de fraude, porque este ano, tudo indica que a fraude foi excessivamente visível".
"A Frelimo ganharia estas eleições, não só pela situação do próprio partido como também pela fragilidade da oposição, pelo que não havia a necessidade de tanta fraude com tanto descaramento", realçou.
"Com certeza, isso aconteceu porque havia dentro da Frelimo, grandes dúvidas e grandes preocupações relativamente à vitória da Frelimo, na medida em que o país sofre crises económica, social e política sérias e a responsável por essas crises é a própria Frelimo", considera aquele académico.
O político Raúl Domingos diz também que a Frelimo não precisava de recorrer à fraude, "porque olhando para aquilo que é a conjuntura política de momento em Moçambique, a Frelimo ganharia as eleições, mas não seria com esta margem asfixiante".
O Observatório do Meio Rural é uma das organizações da sociedade civil que emitiram uma declaração, considerando que as eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais do passado dia 15 "não foram livres, justas nem transparentes".