O governo senegales e os rebeldes independentistas do Casamance assinaram hoje um acordo de paz que põe assim fim a mais de duas décadas do conflito naquela província secessionista do Senegal.
O acordo prevê um pacote de ajuda económica dos doadores internacionais, calculado em 127 milhões de dólares em troca do desarmamento dos rebeldes e do abandono da reivindicação da independência daquela província.
Mais de quatro mil rebeldes, continuam ainda nas matas naquela província do Senegal, que faz fronteira com o norte da Guine Bissau.
O dinheiro do pacote financeiro devera a partida ser aplicado na reconstrução de aldeias e no desenvolvimento do turismo, da industria da castanha do caju e pesqueira.
O investigador Alex Vines, radicado em Londres e que recentemente realizou um estudo sobre o conflito no Casamance disse a Voz da América que o grande desafio prende-se com o cumprimento do compromisso assumido pelos doadores internacionais.
“Os doadores são particularmente bons em promessas e maus em cumprir. E tratam-se aqui de um programa de micro créditos, monitorado. O problema do Casamance esta enraizado na pobreza e na marginalizacão, se comparado com o resto do pais... e para um desenvolvimento sustentável do Casamance, para assegurar que a paz de facto perdure, essa questão esta absolutamente na linha de frente das prioridades.”
De acordo com Alex Vines, um outro desafio em todo esse processo, prende-se com esta realidade: será que os rebeldes vão todos de facto desarmarem-se atendendo que alguns inclusive integram facções do movimento independentista que operam ainda nas matas? Ouçamos a propósito o ponto de vista de Alex Vines.
“Existe uma entidade que basicamente exige a independência do Casamance mas que não está preparado para negociar e não está preparado para encetar o dialogo. Apesar do numero ser bastante reduzido, esses guerrilheiros podem ainda fazer descarrilar o processo de paz, através de actividades militares que poderão ainda esporadicamente levar a cabo.”
Membros de algumas das facções reconheceram estar a receber armamentos do recentemente sarado conflito na Libéria, através das características canoas pesqueiras da região.
De realçar que o conflito na Casamance teve igualmente repercussões na vizinha Guine Bissau e no aumento do banditismo na fronteira senegalesa, com a Gâmbia.
Recorde-se que a rebelião independentista no Casamance teve inicio em 1982, quando manifestantes na capital provincial, Zeguinchor substituíram a bandeira do Senegal nas instituições publicas, pela bandeira branca do Casamance.
Um ano depois, dezenas de pessoas seriam mortas em confrontos entre as forcas de segurança senegaleses e os separatistas, incidente que daria assim inicio a duas décadas de violência esporádica e que custou a vida a mais de três mil pessoas e no desalojamento de milhares de civis.