Uma comissão
parlamentar francesa apresenta terça-feira um relatório sobre o uso do véu na
face por mulheres em locais públicos da França. As conclusões do relatório são
um reflexo de meses de debate sobre uma eventual proibição do véu na cara em
França, país onde vive a maior comunidade islâmica da Europa. Paulo Faria com
os pormenores.
Oloria, de 20 anos, usa desde há tês anos o niqab, ou o véu que cobre a face. Disse que adoptou isso como uma escolha pessoal.
"Ela afirmou que se sente mais próxima da sua religião muçulmana e mais confortável em público, porque julga que isso a esconde dos olhos dos homens. Disse que os seus pais, que são da Gâmbia, inicialmente opuseram-se à sua decisão, mas que agora aceitam."
Mas Oloria poderá brevemente ser forçada a não cobrir a face com um véu em público. Um crescente número de políticos quer banir o uso do véu muçulmano nas ruas da França.
Apenas uma pequena percentagem das mulheres muçulmanas em França usam o véu para tapar a cara. Mas eles, contudo, geraram um dos mais acesos debates dos últimos anos em França.
Tudo começou em Junho do ano passado quando o presidente Nicolas Sarkozy disse durante um importante discurso que o véu da face, que chamou de burqa, estaca contra os valores franceses e não era bem-vindo em França.
Críticos argumentam que o véu é um símbolo da servidão feminina e está contra os direitos das mulheres. Esses críticos argumentam também que o véu representa um risco de segurança, uma vez que esconde a face do seu utilizador.
No princípio de Janeiro, Jean-François Cope, líder da bancada parlamentar da UMP, o partido do presidente Sarkozy, introduziu um projecto de lei para proibir o uso do véu na cara em locais públicos.
"A proibição do véu não se destina a sancionar uma população em particular, sublinhando que as autoridades islâmicas dizem que o véu na cara não é uma obrigação religiosa."
Na terça-feira, uma comissão parlamentar deverá apresentar um relatório sobre o véu da face, após meses de estudo sobre o assunto. O presidente da comissão, o deputado comunista Andre Gerand, já disse que apoia a lei, tal como muitos membros da comissão. Se tal lei for aprovada, ele deverá não só pôr termo ao véu, mas também irá proibir qualquer ornamento que cubra a face em público.
Sondagens indicam que a maioria dos franceses apoia a proibição do véu na face. Mas o assunto está ainda longe de ser resolvido. O presidente Sarkozy quer que o parlamento aprove uma resolução não vinculativa, em vez de uma lei. Outros deputados, incluindo os do Partido Socialista, a principal formação da oposição, estão contra qualquer das medidas.
De uma forma geral, muitos críticos interrogam-se porque é que o debate está agora a ter lugar, uma vez que isso afecta somente um pequeno número de mulheres. Alguns argumentam que isso distrai a discussão de assuntos mais sérios, como a economia. Outros reclamam que representa uma aposta do partido conservador UMP, de Sarkozy, para atrair votantes da extrema-direita para as eleições regionais em Março.
O que é claro, diz Claire de Gallembert, uma especialista sobre o Islão no Centro Nacional de Investigação Científica, em Paris, é que o debate está a alienar os cinco milhões de membros da comunidade muçulmana em França.
"Isto significa também enviar uma mensagem aos muçulmanos em França, afirmando que eles não estão prontos a adaptarem-se aos valores republicanos, mas a República é forte e vai forçá-los a adoptar tais valores. E o problema é que, a maioria dos muçulmanos não se sentem preocupados com a burqa."
Noura Jaballah, que dirige o Fórum Europeu das Mulheres Muçulmanas, um grupo conservador, argumenta que o debate estigmatiza injustamente os muçulmanos. Jaballah usa um lenço de cabeça, mas é contra o niqab, o véu que cobre a face.
"A proibição do uso do véu na cara por ter um efeito perverso. Em vez de obrigar as mulheres a abandoná-lo, aquelas que o usam poderão simplesmente ficar em casa."
Esta não é a primeira vez que o véu muçulmano gerou controvérsia em França. Em 2004, o governo francês adoptou uma lei proibindo meninas muçulmanas de usarem véus de cabeça nas escolas. Gallembert diz que a lei teve resultados mistos.
"Não temos mais véus de cabeça nas escolas, mas as meninas voltam a pô-los quando saiem da escola."
De facto, Gallembert estima que o número de mulheres que usam véus de cabeça em França tem crescido desde 2004, embora não haja estatísticas firmes para apoiar isso.
Oloria disse não estar segura o que irá fazer se a lei for aprovada. Disse que será muito difícil para ela remover o seu véu.
Deputados conservadores querem esperar até às eleições de Março antes de decidirem sobre a legislação. Reclamam que não querem politizar o véu da face, mas muitos franceses concordam que isso já foi feito.