Depois dos recentes ataques a Redacções de jornais no Senegal e da crescente detenção de jornalistas na Gâmbia, surgem novas preocupações a nível internacional sobre a prática do jornalismo na África Ocidental.
Jornalistas gambianos descrevem o quotidiano com pavor, vingança e perda de liberdade de imprensa na região.
As fotos que Abdulhamid Adiamoh, editor do Jornal gambiano, "Hoje", escolheu para ilustrar a noticia do seu jornal eram a seu ver imparcial. Diz ele: "Nós publicamos uma noticia sobre crianças que abandonam as aulas para irem recolher peças de metais nas sucatas. Pensávamos estar a dar atenção a um problema mostrando a sua amplitude."
Dias depois da publicação da noticia, a policia telefonou a Adiamoh pedindo-lhe que comparecesse numa das esquadras da cidade."Para mim – recorda ele - era uma simples noticia. Era imparcial. Nos não fazíamos o juízo de valor ou suposições. Mas, infelizmente, a policia considerou-a de embaraçante para o Estado. É este o problema actual."
Desde então, Adiamoh tem vindo a explicar-se à polícia todos os dias. Nesta peripécia quotidiana, ele não está só. Esta semana, enquanto continuava a explicar-se às autoridades, a jornalista gambiana, Fatou Jaw Manneh, era sentenciada com a pena de quatro anos de prisão, ou então obrigada a pagar uma multa de cerca de 12 mil dólares.
Jaw Manneh escreveu um artigo de opinião, em 2005, criticando o presidente gambiano, Yaya Jammeh, tendo-lhe chamado um exagerado no que toca ao terrorismo. O governo acusou Jaw Manneh de publicar falsidades, noticia que provocam o alarme público. Colegas e membros do Sindicato de Jornalistas, bem como familiares de Jaw Manneh contribuíram financeiramente e evitaram que ela fosse parar a prisão.
Ndey Tapha Sosseh, presidente do Sindicato dos Jornalistas Gambianos, diz que os casos de Adiamoh e de Jaw Manneh são dois exemplos de uma campanha de intimidação contra os jornalistas, nos países da África Ocidental. Adianta ele: "Pode-se provavelmente dizer que alguns deles vivem em estado de medo permanente, porque mais de metade dos jornalistas do jornal "A Gâmbia" ganha menos de cem dólares por mês, e para eles cometer um tal erro ou ofensa, significa pagar uma multa de mais de dez mil dólares. Isso pode gerar algum medo nas pessoas e, obviamente, terá um efeito negativo nos seus trabalhos."
A Gâmbia está sendo seguida de perto pela organização francesa Repórteres Sem Fronteiras (RSF). O chefe da divisão África dos RSF diz que a justiça gambiana está actuando contra os jornalistas: "Nós temos vindo a condenar o que se está a passar com os jornalistas na Gâmbia há vários anos, e o caso de Fatou Jaw Manneh não passa de perseguição pessoa ,de uma vingança do presidente Yahya Jammeh, que se aproveita da polícia e da justiça que, por sinal, são controladas por ele."
No inicio deste mês, o senador americano Richard Durbin apresentou, no Congresso, um outro caso de jornalista gambiano preso pela justiça e apelou ao governo gambiano para a sua libertação. Trata-se de Chief Ebrima Manneh, preso e incomunicável, desde Julho de 2006. Manneh foi detido por causa do seu artigo publicado pela BBC, no qual questionava a decisão da União Africana que decidiu organizar a sua cimeira na Gâmbia. A reportagem transmitia a ideia de que, ao reunir-se na Gâmbia, a União Africana estava contra os seus princípios de condenação de governos autoritários. Mas, o governo gambiano nega que o jornalista esteja sob a sua custódia.
A situação de perseguição de jornalistas não se limita apenas a Gâmbia.O Senegal é um país há muito considerado como melhor de todos na região no que toca à liberdade de imprensa, isto de acordo com Mohamed Keita, pesquisador do Comité de Protecção de Jornalistas, uma organização sediada em Nova Iorque. Segundo ele, o Senegal está em vias de perder esse estatuto por causa das recentes tensões entre os medias e o partido do governo.
Esta semana, diz Mohamed, houve dois ataques contra Redacções de jornais em Dakar: "Jornais independentes foram atacados por indivíduos não identificados e os jornalistas disseram ter visto uma viatura com a matricula do governo. Por isso, estão particularmente preocupados com esses relatos, que sugerem que o governo pode estar a apoiar ataques contra as redacções. E são particularmente os conhecidos jornais críticos ao governo os alvos desses ataques."
Keita diz ainda que a situação no Senegal está a ser cada vez pior para os jornalistas.
Existem vários outros problemas em muitos outros países da região, onde jornalistas encontram-se detidos. O Níger é um deles, onde o correspondente da Radio França Internacional, Moussa Kaka, encontra-se detido há cerca de um ano. O governo acusa-o de traição e de ligações com a rebelião. Kaka sempre se defendeu afirmando de que, simplesmente, contactava com os rebeldes durante as suas reportagens.