Ossétia do Sul: As Raízes de um Conflito

Os combates entre as tropas russas e georgianas alastraram à região ocidental da Geórgia, na segunda-feira, enquanto os esforços internacionais para travar os combates parecem estar a ganhar algum ímpeto.

Os analistas concordam que o actual conflito entre a Geórgia e a Rússia foi desencadeado pelo governo de Tiblisi, na semana passada, quando enviou as suas tropas num esforço para assumir o controlo de Tskhinvali, a capital da província secessionista da Geórgia, a Ossétia do Sul. A Rússia, que tinha tropas estacionadas naquela região, repondeu ao ataque enviando mais tropas, tanques e blindados para transporte de tropas, passando de imediato à ofensiva.

A Ossétia do Sul, à semelhança de outra província da Geórgia, a Abkhazia, declaração unilateralmente a independência em meados dos anos 90. O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, prometeu reintegrar no país aquelas duas regiões.

As tensões têm vindo a aumentar naquela área, durante os últimos meses, à medida que a Rússia reforçava as suas ligações políticas, económicas e comerciais com as duas regiões separatistas. Uma série de avanços militares tanto por parte da Geórgia como da Rússia naquela área ajudaram a aumentar as tensões ainda mais.

Muitos peritos não conseguem explicar as razões porque o presidente Saakashvili decidiu enviar tropas para a Ossétia do Sul nesta altura. Mas, muitos analistas, incluindo Marshall Goldman, da Universidade de Harvard, dizem que se tratou de um erro de cálculo: “Ele, certamente, que escolheu a altura errada para actuar desta forma. Ele estava irritado porque os russos estavam a violar o espaço aéreo da Geórgia. E pensou que esta seria a melhor oportunidade para actuar. Não há dúvida de que provocou os russos. Eu penso que os russos estavam, realmente, à procura de uma desculpa e ele deu-lhes uma.”

Líderes ocidentais, incluindo o presidente George Bush, disseram que a resposta dos russos tem sido desproporcionada.

Robert Legvold, da Universidade de Columbia, afirma que a forte resposta militar russa vai para além da razão inicial de defender os seus cidadãos naquela região: ”Deixou de ser meramente a ideia de restaurar a paz e a estabilidade na Ossétia do Sul. Penso que se trata de destruir a influência da Geórgia na Ossétia do Sul e, na realidade, na maior parte da própria Abkhazia e de preparar a forma, se os russo optarem por isso, de anexarem a própria Ossétia do Sul. E, no caso da Abkhazia, reconhecer a sua independência e, depois, estabelecer com esta um relacionamento diferente.”

Os analistas dizem que a resposta da comunidade internacional ao conflito na Geórgia tem sido morna. Uma vez mais, a opinião de Mashall Goldman: “Os europeus têm sido basicamente neutralizados. Em parte, por se terem tornado muito dependentes do petróleo e do gás natural russo, particularmente do gás natural. Por exemplo, no caso da Alemanha, a Rússia fornece 42 por cento do gás natural consumido na Alemanha. Por isso, o governo de Bona, que se esperaria assumisse a liderança neste caso, tem sido neutralizado”.

Peritos afirmam que os EUA – um forte apoiante do presidente Saakashvili – também se têm revelado incapazes de persuadir ambas as partes de porem termo ao conflito.

Robert Legvold afirma que esta situação se pode transformar num fracasso total para a política externa americana, sem poder ajudar a Geórgia militarmente e incapaz de travar Moscovo: “Os georgianos estão a responsabilizar os EUA e os russos estão a responsabilizar os EUA. Os georgianos estão a responsabilizar os EUA por os terem abandonado, por os ter traído, por os ter apunhalado pelas costas! E os russos acusam os EUA, como o têm vindo a fazer de há algum tempo a esta parte, de terem dado apoio ao líder da Geórgia, um indivíduo que consideram ter um temperamento explosivo”.

Legvold e outros estão convencidos de que a comunidade internacional tem que trabalhar no sentido de garantir um cessar-fogo antes do conflito naquela região ficar totalmente fora de controlo.