Na Mauritânia os militares golpistas prometeram organizar eleições “livres e transparentes” o mais rapidamente possível.
Hoje, no segundo dia do golpe de estado, foram organizadas manifestações a favor e contra o poder militar.
Milhares de pessoas marcharam hoje nas ruas de Nouakchott para saudar o líder dos golpistas, o general Abdel Aziz.
A junta militar no poder anunciou num comunicado publicado hoje que o novo conselho de estado poderá organizar eleições presidenciais o mais breve possível, e que elas serão livres e transparentes.
O Conselho adiantou igualmente que vai supervisionar o processo, em diálogo com as instituições, com a classe política e com a sociedade civil, de forma a permitir a realização de eleições presidenciais e a restauração do processo democrático.
O professor e jornalista Seyid Ould Seyid disse à Voz da América que só tempo irá dizer se os militares cumprirão ou não as suas promessas.
“Eles disseram o mais breve possível. Mas não sabemos o que isso significa para eles. No golpe de há dois anos, eles disseram também o mais cedo possível, e foram 19 meses. Será que se vai repetir a mesma coisa? Eu não sei. É demasiado cedo para ter uma ideia precisa”, declarou Seyid.
O presidente deposto Sidi Mohamed Ould Cheikh Abdallahi foi o primeiro a assumir o poder após a realização das primeiras eleições democráticas em 2007, quase dois anos depois dos militares terem deposto um outro presidente num golpe de estado sem derramamento de sangue.
Desde a independência da França em 1960 a Mauritânia foi alvo de 10 golpes de estados.
O último foi precedido de semanas de crise política, com os deputados do partido no poder a votar uma moção de censura contra o governo.
Testemunhos de residentes em Nouakchott, capital mauritaniana, à Voz da América, falam de uma cidade calma.
O jornalista Seyid Ould Seyid disse que na manhã de hoje os negócios estavam a correr na normalidade. O único realce foi uma manifestação organizada por centenas de pessoas compreendendo políticos, a frente do palácio presidencial de apoio ao líder golpista, o general Mohamed Ould Abdel Aziz.
Falando a Voz da América a partir da entrada principal do palácio presidencial em Nouakchott, Seyid disse que manifestações de apoio aos militares são normais na Mauritânia.
Em suas palavras, “esta manifestação não é algo de novo. Alguns observadores independentes pensam que ela foi orquestrada ontem a noite pelos militares. E é muito frequente na Mauritânia haver estas manifestações a favor do golpe de estado, que no fundo é uma forma de expressão de solidariedade para com o novo poder”.
Mais tarde uma outra manifestação de apoio ao presidente deposto foi proibida pelos militares. De acordo com os relatos os golpistas intervieram para dispersar os manifestantes.
Os Estados Unidos da América e a União Européia condenaram ontem o golpe militar, e apelaram para a recondução do presidente e do primeiro ministro.
Até hoje os dois continuam em poder dos militares num quartel militar em Nouakchott.
A União Africana que também condenou a inversão do regime pelos militares, tinha convocado para esta Quinta-feira uma reunião de emergência para discutir da situação na Mauritânia, e exigiu em comunicado a libertação imediata de todos os detidos.