São esperadas mais manifestações em Cartum, a capital sudanesa, para protestar contra a decisão do acusador público do Tribunal Penal Internacional, o qual apresentou acusações de crimes de guerra contra o presidente Omar al-Bashir. A notícia foi recebida com preocupação por parte de muitos sudaneses, incluindo os líderes do partido da oposição e os antigos rebeldes do Sul que partilham o poder no governo nacional.
O acusador público do Tribunal Penal Internacional pediu a emissão de um mandado de captura para prender o presidente Omar al-Bashir sob acusações de genocídio, de crimes de guerra e de crimes contra a Humanidade, cometidos na região de Darfur, no Ocidente do Sudão.
Milhares de pessoas participaram em manifestações, realizadas durante o fim de semana, organizadas pelo governo em apoio do presidente Bashir. Espera-se que mais manifestações tenham lugar em Cartum.
Mas, muitos grupos sudaneses, geralmente hostis ao Partido Nacional do Congresso, estão também a expressar preocupação acerca das acusações feitas ao presidente.
Abdel Nabi Ali Ahmed é o secretário-geral do Partido Umma, na oposição. Ahmed declarou que seu partido pensa que foram cometidas muitas atrocidades em Darfur, e que aqueles que são responsáveis por aquelas atrocidades têm que se apresentar à Justiça. Mas, segundo ele, "devemos também levar em consideração que este anúncio agora feito irá gerar o caos no que toca à situação em Darfur, onde o sistema é agora muito frágil, havendo a possibilidade de um colapso total do Estado."
Disse Ahmed que deveria ser dado mais tempo ao Sudão para resolver os seus problemas internamente, com uma maior participação do público em geral.
Ele acrescentou que: "até agora, a comunidade internacional não tem levado em consideração as massas sudanesas, falando sempre dos rebeldes e do governo. E a situação é muito complicada. Chegou à altura apropriada para as massas do Sudão falarem de seus próprios problemas. Então o que sugerimos? Sugerimos uma conferência nacional com uma agenda determinada e que deverá contar com a participação de todos os sudaneses: partidos, rebeldes e todos os outros à procura de uma saída para a situação política."
O antigo Movimento de Libertação Popular do Sudão – que está agora a partilhar o poder com o Partido Nacional do Congresso numa tensa coligação desde um acordo de paz celebrado em 2005 – têm também manifestado preocupações com a decisão de aplicar um mandado de captura contra Bashir.
Riek Machar é o vice-presidente da região semi-autónoma do Sul, que é governada pelos antigos rebeldes. Machar está optimista que a aplicação prática do acordo de paz, incluindo as eleições marcadas para o próximo ano, prossigam, conforme previsto.
Entretanto, o porta-voz da missão da ONU, Brain Kelly, afirma que algum do seu pessoal está a abandonar Darfur, receando retaliações contra as operações levadas a cabo por organizações ocidentais.
Segundo Kelly, "trata-se de uma deslocação temporária de pessoal não-essencial, alguns poderão ser transferidos para países vizinhos e outros para vários sectores de Darfur. A situação de segurança está a ser observada e avaliada numa base regular, por isso está em curso uma revisão da situação de segurança."
Machar disse que o pessoal não-essencial que se encontra em Cartum foi instruído para ficar em casa, mas as operações no Sul do Sudão não foram afectadas.
As preocupações de segurança em Darfur eram já grandes depois de atiradores terem emboscado uma patrulha da União Africana e da ONU. A ONU afirma que as suas operações de manutenção da paz continuam normalmente.