Governos
africanos estão a explorar soluções de curto e longo prazo para o problema de
preço e escassez de alimentos. A curto prazo, os líderes precisam de garantir
que a população mais pobre e urbana pode pagar a sua própria alimentação. Já
alongo prazo, eles precisam achar novas maneiras de melhorar a produção
doméstica de alimentos, ou aumentar as suas exportações para poder comprar
alimentos mais caros no mercado internacional.
Os
líderes africanos não precisam olhar muito longe para ver o risco de irritar os
consumidores, pois muitos deles já não podem mais pagar pelo preço do alimento
que não pára de subir. Nos últimos meses, eles saíram às ruas em sinal de
protesto em diversos países africanos como Egipto, Costa do Marfim, Mauritânia,
Burquina Fasso, Nigéria, Camarões, Madagáscar e Senegal.
Peter
Oriare, consultor e director da firma Relações Públicas e Pesquisas
Estratégicas, em Nairobi, disse que a crise alimentar está a influenciar a
política queniana.
Oriare
diz que os líderes regionais pressionaram o presidente queniano Kibaki e seu
oponente, Raila Odinga, nas eleições de Dezembro para que acordassem num
governo de partilha de poder. A disputa resultou em duas semanas de violência e
impediu os camionistas de transportar alimentos e combustível dos portos do
Quénia para os países vizinhos.
Ele
também expressou sua preocupação com o caos que poderá ser gerado se o governo
não conseguir melhorar a produção alimentar e reinstalar os 300 mil
agricultores que foram deslocados durante o caos eleitoral.
Oriare
teme que o aumento da fome possa também aumentar as actividades do Mungiki –
uma rede criminosa que foi banida. Ela surgiu nos anos 80 no Quénia para
proteger os agricultores Kikuyu nas disputas contra o governo e outros grupos
étnicos.
“Agora
no Quénia, as taxas de pobreza e desemprego estão tão elevadas que há
manifestações por parte dos Mungiki, cuja maior reclamação é o desemprego entre
a população jovem. Portanto, se nós enfrentamos uma onda de fome, os jovens
seriam as maiores vítimas, e se essa lacuna entre o governo e o Mungiki
persistir, a situação pode se agravar se não há mais comida no país”.
Na
África do Sul, os sindicatos protestam contra o aumento do preço dos alimentos
e abrem processos na justiça contra líderes de grandes empresas, responsáveis
por fixar os preços.
O
director do Centro de Estudos Políticos e Internacionais da Universidade de
Pretória, Hussein Solomon, diz que neste ano, a influência do partido no poder,
o ANC, migrou para a esquerda, mais pragmática e favorável ao mercado livre.
“Se
olharmos para a dinâmica das atuais decisões políticas depois da recente
conferencia do ANC sobre liderança, muitos comentaristas apontaram para o fato
que a esquerda está em ascensão no país... Dito isso, a pergunta é: será que
eles entendem como funciona uma economia moderna como a da África do Sul e como
ela se encaixa na economia mundial?”
Ele
diz que a esquerda política no país inclui os sindicatos, a liga da juventude
da ANC e o Partido Comunista.
Solomon
diz que a agricultura da África do Sul é
o motor do desenvolvimento do país e fornece alimentos para a região. Ele diz
que a melhor maneira de aumentar a produção alimentícia é reduzir as regulações sobre os negócios, política que não é
seguida pela ANC.
Alguns
dizem a tentativa para aumentar a produção agrícola também afectará o debate
sobre a reforma agrária. Na África do Sul, assim como na Namíbia e no Zimbabwe,
fazendeiros brancos são os donos da maioria das terras de boa qualidade.
“Enquanto
há a tentação por parte de certos movimentos sociais [na África do Sul] de
replicar o exemplo do Zimbabwe, mesmo os maiores simpatizantes de Mugabe na
África do Sul estão a ver o estrago: existem quatro milhões de Zimbabweanos na
África do Sul, cada um com uma historia mais trágica que o outro, sobre a falta
de comida. Portanto, o Zimbabwe é uma lição exemplar de como não se engajar na
reforma agrária, onde se pode ver um governo super-poderoso tentando regular
excessivamente os negócios do país e matando a economia inteira.
Membros
da oposição no Zimbabwe dizem que qualquer que seja o próximo governo, ele
precisará de reduzir a inflação e melhorar a produção alimentar.
Existem
outras tentativas de aumentar a produção alimentar e melhorar a renda dos
agricultores africanos, por exemplo, envolvendo-os no mercado mundial.
A
nível continental, o programa económico da União Africana, a Nova Parceria para
o Desenvolvimento da África, pede aos governos para investir 10% de seus
orçamentos na agricultura.
E
internacionalmente, grupos como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Económico em Paris pedem progresso nas Discussões de Doha da Organização
Mundial do Comércio. Essas discussões visam a eliminação das barreiras do
mercado internacional.
Segundo estimativas da Organização Mundial do Comércio, uma redução de 50% das tarifas sobre produtos agrícolas e manufacturados geraria um ganho de 44 bilhões de dólares no mundo. A organização também estima que a remoção de tarifas e de outras regras que distorcem o mercado livre acrescentaria 2% mais no crescimento anual da África.