Quénia: Operação Regresso a Casa

No Quénia, um grupo de direitos humanos apoiado pelo Estado levantou preocupações sobre os esforços do governo em reassentar centenas de milhar de pessoas deslocadas pela violência que se seguiu as eleições presidenciais de Dezembro. A Operação Regresso a Casa não está a ser bem sucedida porque muitos dos deslocados não têm capacidade ou desejo de regressarem a suas casas.

Cerca de 350 mil quenianos abandonaram as suas casas em resultado da violência pós - eleitoral, com muitos deles a irem viver junto de amigos ou familiares. O governo disse que a maioria deles regressaram a casa desde que teve inicio o programa de reassentamento.

Mas muitos dos agricultores que foram transferidos de grandes campos de acolhimento foram enviados para "campos satélite" menores, perto das suas terras, onde as famílias podem trabalhar de dia na agricultura e regressar ao campo à noite.

A Comissão Nacional para os Direitos Humanos do Quénia afirma, de acordo com cálculos por alto das suas visitas ao campo, que somente cerca de 40 mil pessoas regressaram a suas casas.

Uma das razoes porque muitas famílias não regressaram deve-se ao facto do governo não ter fornecido apoio suficiente para reconstruírem as suas casas, muitas delas completamente destruídas pelo fogo.

Talvez a razão mais importante, disse a comissária Futuma Ibrahim, é que o governo fez muito pouco para apaziguar as tensões sobre a propriedade da terra que causaram a maior parte da violência entre grupos étnicos.

"Há ainda muita hostilidade entre os deslocados reassinados e as comunidades anfitriãs porque o terreno não foi bem preparado para permitir um reassentamento suave. Parece que o governo não pensou seriamente na necessidade de construir a paz."

A preocupação foi ilustrada na semana passada quando mais de 40 pessoas que tinham recentemente regressado a suas casas oriundas do principal campo em Eldoret foram novamente corridos das suas terras.

O grupo elogiou os esforços do governo de aumentar a presença da policia nas áreas onde estão a regressar os deslocados internos, mas advertiu haver ainda substanciais preocupações de segurança.

Adicionalmente, a Comissão Nacional para os Direitos Humanos do Quénia diz que movimentar pessoas de grandes campos para outros menores dispersa essas pessoas tornando mais difícil às organizações não-governamentais fornecer ajuda humanitária e muitos dos novos campos não tem condições adequadas de fornecimento de água, sanitários e outros serviços.

Apesar de alguns relatos de forças de segurança de retirarem coercivamente pessoas dos campos, o grupo afirma que a maioria daqueles que deixaram os campos fizeram-no de uma forma voluntária. Mas nem sempre lhes foram dadas informações precisas sobre as condições em que se encontram as áreas para onde regressaram e tem havido muito pouca participação em organizar os esforços de reassentamento.

Ibrahim disse que muitos dos deslocados que permanecem no campo principal têm sido subestimados pelo programa do governo.

"Parece que o governo no seu pacote de reassentamento não considerou seriamente as necessidades das pessoas ligadas ao comercio que estavam nos campos de deslocados internos. E as pessoas que continuaram nos campos, que não foram reassentadas, que não tem para onde ir, são na sua maioria comerciantes ou negociantes que perderam as suas propriedades."

De acordo com a Comissão Nacional para os Direitos Humanos do Quénia, o governo violou uma serie de orientações das Nações Unidas sobre o reassentamento de pessoas deslocadas.