Armas para o Zimbabwe a Caminho de Angola

Um navio de bandeira chinesa, com carregamento de armas e munições a bordo e destinado ao Zimbabwe, encontra-se a navegar em direcção a Angola, país em cujas águas territoriais deve entrar nas próximas horas.

O cargueiro “An Yue Jiang” que, na passada sexta-feira, viu interditada a sua entrada nos portos sul-africanos por um tribunal de Durban, para o eventual transbordo de um controverso carregamento de material bélico, deixou as águas sul africanas e encontra-se, de momento, a navegar com destino a Angola.

A nova rota desta embarcação está envolta em polémica por levar a bordo quantidades de armas e munições não especificadas e destinadas ao Zimbabwe, informação que foi confirmada à cadeia de televisão americana, CNN, por uma fonte afecta ao ministério dos Transportes da África do Sul.

Mocambique, país que se chegou a aventar como alternativa ao transbordo da carga, desmentiu essa possibilidade através do seu ministro dos Transportes e Comunicações, Paulo Zukula.

Em declarações à agência de notícias Reuters, Zukula confirma o não de Maputo à entrada daquela embarcação nas aguas territoriais moçambicanas, sem diligências prévias para o efeito e confirmou que as autoridades moçambicanas têm estado a seguir os movimentos do navio, desde que este zarpou do porto de Durban, na África do Sul.

Aquele governante revelou ainda ser do conhecimento das autoridades mocambicanas o facto do porto de Luanda figurar como próximo destino do navio de bandeira chinesa.

O “An Yue Jiang” esteve ancorado nos últimos dias ao largo de Durban, na África do Sul, cujo porto foi forçado a abandonar, na passada sexta- feira, isto menos de uma hora depois do Supremo Tribunal de Durban ter interditado quer a navegação da embarcação em águas sul-africanas quer o eventual transbordo do material bélico, que se encontra a bordo e que é destinado ao Zimbabwe.

O principal sindicato dos trabalhadores do sector dos transportes da África do Sul, a SATAWU, com mais de 300 mil associados, recusou inclusive prestar serviço ao navio, num gesto entendido como sendo de protesto e por recearem que as armas e munições a bordo pudessem vir a ser usadas pelo presidente Robert Mugabe contra os seus oponentes políticos ante a situação de tensão vivida naquele país da África Austral.

Helen Zille, da lideranca da Aliança Democrática exortou, na altura, o presidente Thabo Mbeki e o presidente do Comité de Controlo de Armas Convencionais, Sydney Mufamadi, a porem cobro as qualquer eventual operação de transbordo da carga da embarcação de bandeira chinesa, em portos sul africanos.

Numa clara alusão às catanas “made in China” do genocídio no Rwanda, Zille realçou que caso Mbeki e Mufamadi falhem na proibição do transbordo, poderiam ser eventualmente cúmplices de uma acção de terrorismo de estado com proporções a semelhantes a um genocídio.

Alias, a lei sul-africana de controlo à proliferação de armas convencionais interdita o transbordo de armas e munições, sem uma prévia autorização daquele comité antes de analisado e apurado o destino e a utilização reservada aos armamentos .

A lei em questão veda também a realização de operações do género, sempre e que o destinatário das armas, forem governos de ma reputação em termos de protecção dos direitos humanos.

A decisão daquele tribunal sul-africano terá resultado de uma acção judicial interposta pelo bispo da igreja anglicana sul-africana, Rubin Phillip, e pelo antigo activista e presidente do conselho das igrejas locais, Patrick Kerney.

Reagindo, na altura, à decisão judicial, o bispo Philip Rubin considerou que seria uma bofetada na face dos zimbabweanos e uma postura “travestida” de um país da região, se o transbordo do material letal tivesse sido permitido.

Reagindo a polémica e num fax enviado à agência de notícias Reuters, Pequim alega que a China e o Zimbabwe mantêm relações comerciais normais e que o governo chinês assume posições prudentes e responsáveis no que tange ao comércio de armas e que não se deixa envolver em questões internas dos países seus parceiros comerciais.

Como nota de rodapé, saliente-se que envolvidos na controvérsia inicial gerada pela autorização da embarcação chinesa, para o transbordo do carregamento de armas e munições com destino ao Zimbabwe, surgem envolvidos o secretário do sector da Defesa, January Masilela, que preside por sinal o Comité Nacional de Controlo das Armas Convencioniais e de quem teria partido a autorização de transbordo da carga, os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, a “AB”( uma companhia de logística) com sede em Durban, o capitão dos portos e a empresa “Transnet”.