O Combate à Droga na Guiné-Bissau

Agentes anti-droga internacionais advertiram repetidamente que a Guiné Bissau se tornou num ponto chave no tráfico de drogas da América do Sul para a Europa. O governo deste país oeste-africano afirma necessitar de um grande apoio internacional para combater o tráfico de drogas, mas analistas em questões de segurança acusam destacadas individualidades do governo guineense de serem parte do problema.

Um investigador que se identifica pelo nome fictício de Francisco, trabalha no turno da noite da cadeia da cidade de Bissau. Diz ele que ninguém em Bissau sabe que ele faz parte de uma equipa nacional de oito pessoas recentemente formada e destinada a dar combate ao tráfico de drogas.

Francisco afirma que aquela equipa está rodeada de tal secretismo, que não lhes foram atribuídas armas. E nem sequer têm algemas ou telefones para fazer chamadas internacionais.

Na cidade de Bissau, não há energia eléctrica depois das quatro horas da tarde. E a polícia nacional dispõe de apenas uma carrinha.

Francisco afirma que, se um informador lhe telefonar para um contacto, tem que alugar um carro para efectuar a investigação.Há várias semanas atrás, Francisco afirma que a sua equipa recebeu uma informação de que um pequeno avião tinha efectuado uma aterragem não autorizada. A carrinha da polícia estava disponível, mas não tinha gasolina.

O director da polícia emprestou a sua viatura particular, mas quando chegou ao local onde o avião teria aterrado, este tinha desaparecido.

Francisco disse que, aparentemente, os militares terão levado o avião para uma base do exército.

Analistas e peritos em questões de segurança, que estudaram o caso do tráfico de drogas na Guiné Bissau acusam elementos do governo e das Forças Armadas de estarem implicados naquele negócio ilícito extremamente lucrativo.

No ano passado, uma televisão britânica apresentou uma reportagem com um jornalista local actuando como tradutor, na qual o comandante da Marinha de Guerra da Guiné Bissau, José Américo Bubo Na Tchuto, foi citado como tendo dito que havia militares implicados no tráfico de drogas. Mas, mais tarde, aquelaa patente militar negou estas afirmações e colocou em tribunal o jornalista, acusado-o de ter traduzido mal as suas palavras.

Também um activista local dos Direitos Humanos teve que se esconder, depois de ter recebido ameaças na sequência de denúncias que fez contra uma destacada individualidade militar guineense.

O governo de Bissau afirma que as alegações de cumplicidade por parte de entidades oficiais estão a ser investigadas.

Mas, Francisco Benante, presidente da Assembleia Nacional, afirma que a corrupção acontece em toda a parte, incluindo na Guiné Bissau.

Diz ele que os militares são pagos, em muitas partes do mundo, para fecharem os olhos ao tráfico de drogas. E adianta que a única diferença relativamente à Guiné Bissau é que os militares “ e citamos – “são mais pobres e têm mais fome”.

Durante anos que o governo não tem sido capaz de pagar a tempo aos seus funcionários, incluindo aos militares e à polícia, enquanto o país se debate para recuperar do último golpe de Estado, ocorrido há menos de cinco anos atrás.

A ONU calcula que cerca de 40 toneladas de cocaína passem através da África Ocidental, todos os anos, a caminho da Europa e que uma grande parte desse tráfico, aparentemente, transite através da Guiné Bissau.

O investigador Francisco afirma que é difícil competir com os traficantes da droga. Diz ele que o valor de duas toneladas e meia de cocaína no mercado europeu é equivalente ao orçamento geral do Estado da Guiné-Bissau, que é de cerca de 125 milhões de dólares.

Os traficantes contratam pessoas na Guiné-Bissau cuja missão é fazer vigilância, fornecer transporte e apoio às suas operações. Os traficantes usam aviões e embarcações para fazer entregas e para receber a droga, ao longo das inúmeras enseadas e ilhas ao longo do território guineense.

Francisco afirma ter-se tornado num investigador da equipa anti-droga porque, diz ele, detesta ver o seu país ser literalmente destruído pelo tráfico da droga.

Reconhece que o seu trabalho é perigoso, mas adianta que foi guerrilheiro na luta de libertação nacional do colonialismo português e que necessita agora de desempenhar esta missão para bem do seu país.

No fim do seu turno de 12 horas, naquele dia, Francisco não tinha recebido quaisquer informações sobre pistas. Diz ele que trabalha com seis informadores, tentando pagar-lhes as suas despesas de transporte e de telefone, sempre que pode.

Mas, admite ter perdido alguns dos seus informadores porque os traficantes e os seus colaboradores podem pagar-lhes mais para que se mantenham quietos.