A morte na terça-feira à noite na Cidade do Cabo do antigo primeiro-ministro da Rodésia, Ian Smith, coloca um ponto final de uma era que assombrou os cidadãos do Zimbabwe independente. Ian Smith, que levou o seu país para a guerra em vez de desistir de um regime minoritário branco, morreu sem se arrepender daquilo que fez politicamente.
A imprensa estatal zimbabweana noticiou a morte de Ian Smith, aos 88 anos de idade, de uma forma moderada.
A oposição ao seu regime ajudou a levar ao poder o actual presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, que liderou a guerrilha numa punitiva guerra civil por um homem, um voto. Apenas negros com uma certa educação podiam votar na então Rodésia.
Ian Smith ficou no Zimbabwe depois da independência, sem segurança, e continuou a praticar a agro-pecuária sem ser incomodado, ate que problemas de saúde forçaram-no há quatro anos a passar a viver mais próximo dos seus dois filhos sobreviventes na Cidade do Cabo, na África do Sul.
Nunca quis deixar o Zimbabwe e permaneceu profundamente critico ao regime do presidente Mugabe.
David Coltart é um dos mais antigos advogados de direitos humanos do Zimbabwe que, na sua adolescência foi obrigado a prestar serviço militar nas forças rodesianas, já perto do fim da guerra civil.
“Muitas das decisões e orientações políticas de Ian Smith foram desastrosas para o país. A legislação draconiana aprovada enquanto primeiro-ministro nas décadas de 60 e 70 e a declaração unilateral de independência anunciada por ele em Novembro de 1965, foram as causas principais da guerra civil que irrompeu na então Rodésia nos anos 70. Essas policias radicalizaram também os movimentos nacionalistas negros e geraram o actual violento e fascista regime da Zanu-PF. Penso que a historia mostrara que as políticas de Ian Smith contribuíram para o estado desastroso em que se encontra hoje o Zimbabwe.”
Coltart tal como muitos zimbabueanos, incluindo o presidente Robert Mugabe, que estiveram presos durante uma década durante a guerra civil, disse que Smith teve uma vida moral exemplar e amava o seu país.
“Durante os 14 anos do seu regime, a Rodésia tornou-se num país produtor de uma grande quantidade de bens. Em finais de 60 e princípios de 70, a economia rodesiana cresceu e na verdade na altura da independência Ian Smith legou a Robert Mugabe uma moeda muito forte. Uma moeda que era certamente mais forte do que o dólar norte-americano na altura. Dirigiu também uma administração muito eficiente. Nenhum zimbabueano morreu de fome durante o seu regime. E Robert Mugabe recebeu a jóia de África em 1980 e destruiu-a. Caso contrario, teria sido um legado positivo de Ian Smith.”
A moeda actual do Zimbabwe não tem praticamente valor nenhum e a inflação no país de cerca de 17 mil por cento e a mais alta do mundo. Contudo, a maioria dos zimbabueanos, incluindo aqueles que agora sofrem. Tem demonstrado desde a independência que não querem retornar a um regime de minoria branca.
Hoje em dia existem no Zimbabwe apenas uma mão cheia de brancos economicamente activos, em comparação com os cerca de 300 mil no tempo em que o país se chamava Rodésia.