O Sudão concordou em receber uma força conjunta de manutenção da paz da ONU e da União Africana para actuar na conturbada região de Darfur. Na ONU, em Nova Iorque, as primeiras reacções foram cautelosas.
Um comunicado emitido na capital etíope, Addis Abeba, na terça-feira, afirma que o Sudão aceitou um plano revisto para o envio de uma força híbrida composta por elementos da União Africana e das Nações Unidas para uma missão de paz em Darfur. O acordo foi anunciado no termo de dois dias de conversações envolvendo as três partes.
Representantes da União Africana afirmam que a força será composta por entre 17 a 19 mil tropas, com uma adicional força policial de três mil e 700 agentes.
Em Nova Iorque, o secretário-geral da ONU, saudou o acordo, num comunicado lido pela porta-voz Michele Montas: ”O secretário-geral saúda a conclusão positiva hoje obtida no âmbito das consultas de alto nível mantidas entre a delegações da União Africana, das Nações Unidas em consulta com o governo do Sudão sobre a operação híbrida e manifesta-se disposto a implementar rapidamente o plano de três fases para a missão de paz em Darfur”.
As notícias chegadas de Addis Abeba levantaram, imediatamente, questões e dúvidas entre os diplomatas de que o acordo permaneça de pé. Uma das questões é a composição da força híbrida.
Entidades ligadas às forças de paz da ONU vêem a questão como maioritariamente uma força africana com um comandante africano, mas sob o uma estrutura de comando e controlo da ONU. Mas, o presidente sudanês, Omar al-Bashir, disse que iria insistir em que todas as tropas sejam africanas.
O porta-voz do Departamento de Estado americano, Sean McCormack, disse que a imposição daquelas condições levaria à ruptura do acordo: “Dizer que a força seria limitada a apenas tropas africanas é, com efeito, afirmar que não está totalmente de acordo com o total das 17 e 19 mil tropas, que os peritos consideram necessárias para cumprir aquela missão. Portanto, é uma tomada de posição que, aparentemente, parece aceitar tudo quando, na realidade, se analisarmos melhor não aceita.”
Vários diplomatas da ONU notaram que o presidente al Bashir, do Sudão, quando pressionado, pareceu ter, anteriormente, aceitado uma força de “Capacetes Azuis” para, logo a seguir, dar o dito pelo não dito. Os diplomatas apontam o facto do acordo celebrado em Addis Abeba ter sido obtido dias antes do Conselho de Segurança visitar Cartum para debater o envio da força híbrida.
O embaixador americano junto da ONU, Zalmay Khalilzad, disse que um determinado número de embaixadores com assento no Conselho de Segurança apoiam o agravamento das sanções contra o Sudão, a menos que haja um acordo sobre a força híbrida: “Dissemos já que, se não obtivermos uma aceitação incondicional do conceito UA-ONU sobre a força híbrida, então vários de nós perfilhamos a perspectiva de que temos que adoptar sanções adicionais, reforçando-as para incentivar o governo de Cartum a cooperar”.
Paralelamente, Khalilzad disse ser importante notar que a violência em Darfur emana não apenas do governo e das milícias apoiadas pelo governo, mas também das forças rebeldes, mas também das forças rebeldes. Disse ele que todas as partes têm a obrigação de cumprir com as resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
A guerra civil em Darfur rebentou no início de 2003, quando rebeldes não-árabes pegaram em armas, acusando o governo sudanês de ignorar a sua luta. Cartum respondeu armando as milícias árabes, conhecidas como Janjaweed, para esmagar a sublevação.
Peritos internacionais afirmam que se registaram mais de 200 mil mortes relacionadas com a guerra em Darfur, desde que a luta começou. Mais de dois milhões de pessoas fugiram de suas casas para escapar à violência.
As autoridades sudanesas põem em causa aqueles números, afirmando que apenas uns escassos milhares de pessoas morreram em resultado da guerra.