Especialistas em saúde pública, reunidos em Genebra, advertiram recentemente quanto aos perigos da propagação de uma forma de tuberculose resistente ao tratamento usual. Esses especialistas fazem parte de uma força-tarefa criada pela Organização Mundial de Saúde para orientar os diversos países no combate desse problema, e também para formar equipas de socorro encarregadas de responder aos pedidos de assistência técnica dos países em questão.
ANA - O director interino da OMS, Doutor Anders Nordstrom, declarou que é preciso tomar providências urgentes para controlar a tuberculose multi-resistente, especialmente nas regiões em que existe forte incidência da SIDA. Acentuou, porém, que é importante que não seja negligenciado o tratamento da modalidade comum da doença. Por sua vez, os especialistas reunidos em Genebra disseram que não será possível controlar a tuberculose multi-resistente sem que haja uma coordenação estreita entre os programas de luta contra a tuberculose e a SIDA.
RENATO - Entre os primeiros países a solicitar assistência para reforçar as medidas nacionais de emergência contra a tuberculose multi-resistente figura a África do Sul. No mês passado, a preocupação da comunidade internacional com a necessidade de combater a nova forma da doença foi reforçada com as noticias provenientes da província sul-africana de Kwazulu Natal de uma alta taxa de mortalidade entre pessoas aidéticas que haviam sido infectadas também pelo bacilo de Koch.
ANA - A tuberculose multi-resistente é definida por sua capacidade de não se deixar afetar pelos medicamentos de primeira linha usados no tratamento convencional, como, por exemplo, a rifampicina e a izoniazida, ou pelos medicamentos de segunda linha, como a capreomicina, a canamicina e a amicacina. Um terço da população mundial padece de tuberculose latente, e corre o risco de desenvolver em sua forma ativa essa doença, que mata um milhão e 700 mil pessoas todos os anos, muitas vezes porque ela não foi diagnosticada, ou foi diagnosticada tarde demais.
RENATO - Um relatório recentemente divulgado revela que um dos grandes problemas da luta contra a tuberculose é a falta de testes apropriados de diagnóstico. Nove milhões de pessoas adquirem a tuberculose activa anualmente, mas a maioria não chega a contar com um diagnóstico feito através de testes de laboratório. Somente dois milhões e 200 mil casos são confirmados mediante o exame microscópico do escarro, o mais indicado. Um grande número é diagnosticado por meio de testes ineficientes, ou uma combinação de chapas de raios-X e cultura bacteriológica.
ANA - O mercado de testes diagnósticos é imenso. Basta dizer que um bilião de dólares é gasto com testes e exames, enquanto somente 300 milhões de dólares são gastos com medicamentos para tratar a doença. Mas os especialistas advertem que os testes comumente usados, incluindo o exame microscópico do escarro, não são suficientemente sofisticados para fornecer um diagnostico altamente diferenciado.
RENATO - Já existe a tecnologia para produzir instrumentos mais complexos, mas alguns deles, como o teste molecular, não estão no momento acessíveis aos países do mundo em desenvolvimento. O Dr. Mario Raviglione, director do Departamento de Tuberculose da Organização Mundial de Saúde, afirmou: “O mundo precisa urgentemente de novos testes, seguros e acessíveis, para simplificar a detecção da tuberculose. A despeito do progresso tecnológico, a maioria dos doentes de tuberculose conta apenas com a microscopia convencional, que requer repetidos exames, deixa de constatar metade dos casos, e se mostra particularmente ineficiente quando se trata de pacientes co-infectados com o vírus da SIDA”.
ANA - Os especialistas esclarecem que o instrumento mais útil seria um teste capaz de detectar a infecção latente e prever sua progressão para a doença activa. Um teste desse tipo se for implementado, poderia revolucionar a controlo da tuberculose.
RENATO - “A resistência aos medicamentos, com que hoje nos confrontamos, constitui sem dúvida o desafio mais grave em matéria de tuberculose na Europa desde a II Guerra Mundial”, declarou o Doutor Markku Niskala, secretário-geral da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. E acrescentou “: «É por isso que diligenciamos instantemente junto dos dirigentes europeus para que reajam energicamente, sem a menor demora, porque, de contrário, a crise ameaça escapar ao nosso controlo”.
ANA - A OMS, a Cruz Vermelha e cerca de duas dezenas de agências e organizações não-governamentais criaram uma aliança para melhorar a luta e pressionar os governos europeus a comprometerem-se nessa luta. Cerca de 450 mil pessoas contraem a tuberculose na Europa Oriental e na Ásia Central anualmente, das quais 70 mil morrem, salienta a Cruz Vermelha. Nos vinte países do mundo com a maior taxa de tuberculose multi-resistente, 14 encontram-se naquela zona, segundo a mesma fonte.
RENATO - Em determinados países, o mau uso de medicamentos anti tuberculose de segunda geração, que constituem a última linha de defesa contra a doença, contribui para a multiplicação de casos ultra resistentes.
O problema é ainda agravado pelo aumento acelerado da prevalência do vírus da SIDA, nomeadamente na Rússia e na Ucrânia, porque a diminuição da defesa do sistema imunitário que ele provoca favorece o aparecimento da tuberculose. ANA - “As zonas mais perigosas da tuberculose fármaco-resistente situam-se na periferia da União Européia», informou o Dr. Mario Raviglione, que dirige o Departamento de tuberculose na Organização Mundial de Saúde. E ele prosseguiu dizendo: «Os investimentos na luta contra esta doença devem estar à altura da ameaça e à cabeça da lista de prioridades européias, em particular nos países doadores. Os europeus deveriam empenhar-se a fundo em resolver os seus próprios problemas, especialmente quando se revestem de tal gravidade”.
Actualmente, a maior parte da assistência técnica em matéria de luta contra a tuberculose na região europeia no seio da OMS é garantida pelos Estados Unidos.