A Trafigura Sabia o que Estava a Transportar

Centenas de pessoas apoiaram uma acção judicial britânica contra a companhia holandesa negociante de petróleo, Trafigura, acusando-a de ter depositado ilegalmente em Agosto do ano passado toneladas de lixo toxico na Costa do Marfim.

Cerca de 20 marfinenses processaram a companhia por aquilo que disseram ser a consequência do deposito mortífero.

As autoridades sanitárias da Costa do Marfim informaram que pelo menos 10 pessoas morreram e milhares de outras continuam doentes pelo contacto com o óleo espesso venenoso deposito em mais de 15 locais a céu aberto em Abidjan.

A companhia holandesa negou qualquer responsabilidade. Num documento escrito, a Trafigura, que tem um escritório em Londres onde o caso esta a ser seguido, afirma que o navio fretado transportava principalmente gasolina refinada da Estónia para a Nigéria. O documento acrescenta que o navio descarregou legalmente algum lixo toxico através de uma companhia marfinense.

O advogado principal dos queixosos, Martin Day, reagiu energicamente à defesa da companhia holandesa.

“Um total disparate. Eles aceitaram que os desperdícios eram desperdícios químicos. Claro que a Costa do Marfim não possuía unidades para tratar esse lixo. A Trafigura sabia o que estava a transportar para a Costa do Marfim. Assim o fizeram porque não queriam pagar o dinheiro para que aquele lixo toxico fosse tratado no mundo desenvolvido”.

O programa para o ambiente das Nações Unidas estima que a limpeza na Costa do Marfim custara pelo menos 30 milhões de dólares.

Helen Perivier, da organização de defesa do meio ambiente Greenpeace afirma que o mundo acordou em finais dos anos 80 para o problema do comercio de lixo toxico e a sua cara limpeza, respondendo com tratados internacionais, como as Convenções de Basileia e de Bamako, para proibir o deposito ilegal de lixos perigosos.

Helen Perivier acrescentou que depois disso o deposito ilegal e lixos tóxicos entraram em declínio ate ao incidente na Costa do Marfim que apanhou muitas pessoas de surpresa.

Nick Nuttall, um porta-voz do programa para o ambiente das Nações Unidas afirmou que múltiplas mudanças de navios e de atracamentos no comércio internacional de lixos tóxicos dificulta o trabalho das policias, especialmente nas regiões mais pobres do mundo.

Nuttall acrescentou que o problema não diz respeito somente aos países que exportam os seus lixos, mas também aos países que os aceitam.

“Podemos ter quantas leis quisermos, mas se não temos capacidade de as executar nos países em questão, então elas são apenas tigres de papel, ou seja, ineficazes”.

Casos de deposito de lixos perigosos tendem a envolver materiais radioactivos e óleos químicos, mas Helen Perivier, da Greenpeace, afirma que a natureza dos lixos está a mudar, nomeadamente para lixo electrónico que é queimado ao ar livre.

Perivier acrescentou que a maioria do lixo electrónico, conhecido pela palavra inglesa “e-waste” contem metais pesados e plásticos que são venenosos quando queimados.

As Nações Unidas estimam que perto de meio milhão de computadores postos fora de uso chegam mensalmente à Nigéria. A maioria deles são oriundos dos Estados Unidos, que não ratificou o tratado de proibição de lixos tóxicos.