Kissinger e Albright Apoiam Diálogo com Síria e Iraque

Dois ex-secretários de Estado americanos defenderam a ideia dos Estados Unidos engajarem diplomaticamente alguns dos países vizinhos do Iraque, como saída para se conseguir a estabilidade naquele conturbado país.

Num testemunho prestado perante o Comité das Relações Externas do Senado, os ex-secretários de Estado americanos, Henry Kissinger e Madeleine Albright instaram a actual administração a um envolvimento diplomático dos países vizinhos do Iraque, nomeadamente a Síria e o Irão.

Kissinger, que foi secretário de Estado durante a administração dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford propôs, inclusivé, conversações directas com o Irão e com a Síria, como parte de uma conferência regional sobre o Iraque. Disse Kissinger: “ Devia haver uma conferência do género que do meu ponto de vista, deveria incluir os países vizinhos, o Conselho de Segurança da ONU e nações tais como a Indonésia, a Índia e o Paquistão. Seria uma iniciativa alargada e abrangente que poderia incluir sub-grupos de debate de assuntos regionais. A importância dessa iniciativa e a de que só no quadro dela poderíamos de facto lidar com a questão da autonomia e ganhar uma certa legitimidade face às críticas contra a intervenção.”

Kissinger reconhece, entretanto, que o fundamentalismo radical promovido pelo Irão constitui a grande ameaça para aquela região no seu todo.

Apesar de admitir acreditar que o Irão esteja pouco motivado com a ideia de ajudar os Estados Unidos a resolver o problema do Iraque, Henry Kissinger defende mesmo assim o engajamento de Teerão na crise iraquiana: “ Não temos problemas com o Irão, enquanto nação. Podemos respeitar o Irão, como um potência da região, com um significativo papel e influencia . O que não podemos aceitar e que o Irão domine a região com base numa ideologia religiosa e usando a importância dos xiitas, nos outros países, para minar a estabilidade na região, por sinal determinante para o bem estar económico do mundo e do qual em parte depende”

A administração do presidente George Bush tem, entretanto, colocado pré-condições face a eventuais conversações directas com a Síria e o Irão.

Washington defende, por exemplo, que Teerão deve primeiro abandonar o seu programa nuclear, programa esse que os Estados Unidos e os seus aliados acreditam ter fins meramente bélicos, antes do início de quaisquer conversações, versando o Iraque.

No que tange à Síria, a administração George Bush exorta o governo de Damasco a travar a infiltração de combatentes estrangeiros e de material letal para o Iraque, através da fronteira comum entre os dois países.

Mas, apesar das condicionalismos levantados por Washington e fazendo suas, os argumentos de Henry Kissinger, a ex-ecretária de Estado da administração do presidente Bill Clinton, Madeleine Albright é também apologista de um engajamento diplomático desses dois países vizinhos do Iraque na busca da estabilidade e da reconciliação naquele país: “Podemos dialogar com governos sem ter que os endossar ou rever as suas acções passadas. Falar com governos acerca de problemas é um exercício da diplomacia.”

Apesar de Madeleine Albright e de Henry Kissinger concordarem na necessidade de mais espaço dever ser dado à diplomacia na busca de uma solução para a crise iraquiana, os dois antigos secretários de Estado discordam, entretanto, quanto à decisão do presidente George Bush do envio de mais 21mil soldados adicionais para o Iraque, com a maioria dos soldados destinados a Bagdade e com a missão de apoiar as forças iraquianas na garantia da segurança as populações.

Para já, uma ideia com a qual Madeleine Albright não concorda:“ Não falamos a língua deles, não conhecemos suficientemente a cultura e, francamente, não temos uma reconhecida autoridade legal e moral de ir as casas dos iraquianos, para deles, exigir obediência. Cada vez que o fazemos, acabamos por perder praticamente o mesmo terreno político que eventualmente ganhamos em termos militares.”

Já para Henry Kissinger, os novos reforços militares poderão levar a estabilidade aquele país, permitindo assim a funcionalidade plena do governo de unidade nacional.

Saliente-se que o Senado dos EUA considera debater, para semana, uma série de resoluções não vinculativas relacionadas com o incremento da presença militar americana no Iraque.

De entre essas resoluções, figura uma patrocinada pelo mais alto representante do partido republicano no Comité das Forças Armadas, o senador pelo Estado da Virgínia, John Warner, conhecido pela sua posição crítica face à ideia do reforço da presença militar americana no Iraque.