Críticos da política americana no Sudão afirmam que a administração Bush está a tomar uma posição demasiado complacente ao tentar pressionar o governo sudanês para que autorize o envio de uma força robusta de manutenção da paz da ONU para Darfur. A situação de segurança continua, entrentanto, a deteriorar-se em Darfur, onde dois grupos rebeldes se recusaram a assinar um acordo de paz.
A Secretária de Estado Adjunta americana para os Assuntos Africanos, Jenday Frazer, acaba de regressar de Cartum, onde se avistou com o presidente sudanês, Omar al-Bashir, para consultas no sentido de pôr fim à guerra na região sudanesa ocidental de Darfur e enviar para o terreno uma força de manutenção da paz da ONU que irá substituir tropas da União Africana.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou, na quinta-feira, o envio das tropas, mas estas não poderão ser enviadas até que o governo sudanês concorde com a sua instalação no terreno. E as autoridades sudanesas tornaram clara a sua oposição à presença da força da ONU.
Não obstante, a Secretária de Estado Assistente para os Assuntos Africanos, Jenday Frazer, disse aos jornalistas estar confiante de que o governo sudanês irá mudar de posição: “Estou confiante que, em última análise, eles irão aceitar a decisão da União Africana. E a decisão da União Africana é a de que há necessidade de haver uma transição entre a força da União Africana e a missão da ONU e eu estou absolutamente confiante de que, no final, o governo do Sudão irá aceitar aquela decisão”.
A embaixadora Frazer afirma ter também entregue uma mensagem pessoal do presidente Bush a al Bashir, exortando o Sudão a fazer avançar o Acordo de Paz assinado em Maio e a permitir a transformação da enfraquecida força da União Africana, um contigente de sete mil homens, numa unidade de mautenção da paz da ONU com 20 mil soldados e polícias em Darfur. Como incentivo, o presidente Bush ofereceu-se para se reunir com o presidente sudanês, caso este concorde com o envio da missão da ONU.
David Mozersky é o director do Projecto para o Corno de África do Grupo Internacional de Crise. Diz ele que a administração Bush está, claramente, a dar a Cartum mais uma oportunidade em Darfur, relativamente a um conflito que descreveu como um genocídio. E Mozersky responsabiliza a comunidade internacional como um todo por não apoiar uma atitude diplomática mais dura acompanhada de acções: “A estratégia de envolvimento de que ser de muito maior pressão do que aquela que vimos. Esta estratégia de simplesmente acenar com recompensas é muito pouco provável que motivem o governo sudanês. E eu penso que a História prova este ponto. E a comunidade internacional tem essencialmente utilizado ameaças que se tem provado ser ameaças vazias para além de floreados diplomáticos para tentar com que o governo de Cartum concorde”.
Mozersky afirma ainda que, durante mais de dois anos, os EUA e os seus aliados exigiram que o governo de Cartum desarmasse as chamadas milícias Janjaweed, milícias árabes que têm actuado em lugar do governo na guerra contra as formas rebeldes. Aquelas milícias têm sido acusadas de terem cometido atrocidades contra dezenas de milhar de civis em Darfur, atrocidades que estão bem documentadas.
A ONU calcula que, em quatro anos de conflito, tenham sido mortos centenas de milhar de africanos e desalojados mais de dois milhões. E, até agora, só uma simbólica minoria de milícias árabes foram desarmadas.
Entretanto, a ONU afirma ter presenciado o reforço da presença de forças governamentais sudanesas em redor de El-Fashir. De acordo com Mozersky e o jornal “The New York Times”, o governo de Cartum está a preparar uma nova ofensiva em Darfur: “As informações de que dispomos referem até que a ofensiva estará já em marcha. E estará, aparentemente, a ser levada cabo contra a Frente Nacional de Redenção, que é a coligação que não assinou o acordo de paz com os outros grupos rebeldes, em Maio. E, durante os últimos meses, eles têm vindo a assumir acções militares contra o líder do Exército de Libertação Sudanês, que também não subscreveu o acordo. E o que temos ouvido é que lançaram a ofensiva nos últimos dois ou três dias.”
A embaixadora Jenday Frazer disse ter falado com o presidente al-Bashir acerca dos riscos de uma nova ofensiva, o que constituiria uma flagrante violação do Acordo de Paz para Darfur: “Também expressei preocupação do plano militar do Sudão para uma nova ofensiva contra os não signatários do acordo, como violando o acordo de cessar-fogo e que poderá levar ao agravar da situação humanitária no terreno. E sublinhei o que consta de numerosas resoluções do Conselho de Segurança e que refere que não pode haver uma solução militar para a crise de Darfur”.
Frazer enfatizou que consultas entre os EUA, a comunidade internacional e o Sudão têm que continuar por forma a colocar no terreno uma nova força da ONU mandatada para proteger a população civil em Darfur.