Pepetela : Carlos Pacheco Não  Percebeu o que lhe Aconteceu

Três personalidades ligadas ao que se passou em alguns dos aposentos do Ministério da Defesa em 1977, resolveram responder às alegações que Carlos Pacheco levantou na entrevista que concedeu à Voz da América. Pepetela, que há um ano dissera que já se tinha pronunciado e que não o voltaria a fazer, decidiu abrir uma nova excepção para responder a CP. Manuel Rui, também o fez, e Ndunduma, citado como tendo recorrido a ameaças para demover Carlos Pacheco, a dizer “o que eles queriam ouvir” nega que alguma vez o tivesse feito. Só Diógenes Boavida, e Paulo Jorge, com quem a Voz da América não conseguiu falar, não reagiram.

Ndunduma diz que não fez nenhuma ameaça, e que não gostaria de reagir de forma interpolada, isto é, sem a presença dele. “Acredito que a presença dele em minha casa nega o que ele diz. Posso dizer que ele está perturbado. Num outro artigo acusa-me a mim, o Manuel Rui e o Pepetela de ter feitos ameaças. Diz que o Rui Matos estava lá, o que é falso. Estava lá outra pessoa com um nome parecido”.

Interrogado sobre quem seria, Ndunduma recusou-se a identificar a pessoa, mas acrescenta que Carlos Pacheco não teria ido a casa dele, se ele de facto o tivesse ameaçado como diz.

Diz também que o que Pacheco tem feito desde que se mudou para Portugal, é proferir insultos a Agostinho Neto, um dos quais o jornalista português Artur Queirós sintetizou e respondeu muito bem. Por fim disse que há muito que decidiu que as pessoas que estão vocacionadas para arranjar estas feridas, “deveriam procurar um psiquiatra para se tratarem. Eu não sou psiquiatra.”

Alinhando mais ou menos pelo mesmo diapasão, Manuel Rui diz que não gostaria de falar de Carlos Pacheco, porque cada vez que o faz, passa a fazer dele uma pessoa importante. Ainda assim Manuel Rui não recusaria a hipótese de uma conversa cara a cara. “Queria apanhá-lo na União dos Escritores para um frente a frente, para me dizer quando foi que o torturaram. Nunca apareceu por lá. Na verdade, gente que estava a ser interrogada hoje está rica”.

Manuel Rui tem memória de se ter cruzado uma vez com Carlos Pacheco, mas o encontro deu em nada. “ Cruzou-se uma vez comigo na rua, mas mudou de passeio. Desde que mudou para Portugal que passa a vida insultar. Ninguém o acredita. Havia uma comissão para ouvir as pessoas, e ao 2º dia acabaram com a comissão, a tal comissão de choros e lágrimas. Já estive para lhe pôr um processo. Ele não sabe , mas é preciso que se lhe diga que requeri em nome de várias viúvas, certidões de óbitos, pois elas e outras pessoas precisam de cuidar das suas vidas””.

Tal como Manuel Rui, e Ndunduma, Pepetela também encontra contradições nas palavras de Carlos Pacheco. “ Ele está a dizer o que eu disse há um ano. Ele não está a perceber o que lhe aconteceu. Não percebeu que estava perante uma comissão que apenas decidia se valia ou não valia a pena passar para a informação. Ele não serviu, e o seu depoimento não passou. Se isto é interrogatório, não sei. O que se queria eram depoimentos que ajudassem a esclarecer as coisas. O problema foi que havia outras comissões que faziam outras coisas. Quem nomeou as outras comissões , é que deveria explicar”.

Pepetela recorda que as comissões foram nomeadas pelo Bureau Político do MPLA.. “Ainda há uns que estão aí. Apenas lamento que sempre se chega a esta altura do ano, se venha com a mesma história. E o interesse é sempre tocar nas mesmas pessoas”. Relutante em falar sobre o 27 de Maio, Pepetela prefere também não identificar ninguém. “É evidente que sei quem são, mas não vou dizer”.