Uma Sociedade Igualitária

Ao som de uma música andina popular, Ollanta Humala entrou no palco super enfeitado no centro de Lima, enquanto milhares de seus adeptos aplaudiam entusiasticamente.

Exibindo a sua característica camiseta vermelha e jeans, Humala andou para lá e para cá, ao mesmo tempo em que discursava eloquentemente num tom ensurdecedor e pontuava as palavras com gestos amplos.

“Precisamos novos alicerces para a República, precisamos construir uma nova sociedade: uma sociedade igualitária na qual todos sejam iguais perante a lei, e na qual a lei não dê preferência aos ricos em detrimento dos pobres; uma nova sociedade baseada na solidariedade e na dignidade. Porque na verdade aqui no Peru temos uma ditadura do poder econômico aliada com os interesses das empresas multinacionais”.

Humala se comprometeu a acabar com os privilégios fiscais destinados a atrair investimentos estrangeiros, e a desfechar uma guerra total contra a corrupção. Declarou que os políticos não serviram a nação a contento, e agora é preciso fazer mudanças.

Disse ainda que os únicos a temerem mudanças são aqueles que estão a se beneficiar da situação catastrófica em que o Peru se encontra. Esses temem mudanças, mas o povo não as teme, concluiu Humala.

A maior parte das pesquisas de opinião prevê que a candidata Lourdes Flores, favorável aos meios empresariais, será a segunda colocada nas eleições de domingo.

O porta-voz de Flores, Luis Felipe Arizmendi, afirmou que o Peru experimentou quatro anos consecutivos de sólido crescimento econômico, mas observou que os pobres estão ainda a esperar pelos benefícios dessa expansão econômica. O plano de Humala, disse ele, é uma solução errada. As condições econômicas melhoraram, graças a maiores investimentos estrangeiros e nacionais. Por conseguinte, mudar radicalmente o modelo político e econômico traria conseqüências perigosas e irreversíveis.

No entanto, Roberto Contreras, morador de um dos bairros de lata de Lima, quer precisamente mudanças radicais.

“Eu gostaria que a pessoa que vamos eleger mudasse a direção que o país está a seguir, que vai de mal a pior, para que os pobres não fiquem mais pobres ainda e haja justiça para todo o mundo. Uma mudança radical”.

Alfredo Torres, que trabalha no sector de pesquisas de opinião, acha que Contreras não está sozinho em seu posicionamento de querer ver resultados concretos. Humala, que já foi militar, tem a reputação de ser autoritário, mas justamente existe um segmento da população, segundo Torres, que prefere um Presidente que demonstre maior capacidade de exercer sua autoridade. Existe, por trás disso tudo, uma grande desconfiança em relação aos políticos, e a impressão de que o Congresso não representa verdadeiramente o povo. Isso cria o desejo de ter no comando um homem forte capaz de defender os pobres.

Naturalmente não há unanimidade no seio do publico. O estudante Carlos Gonzáles, por exemplo, não quer nada com a plataforma populista de Humala. Para ele, o importante ‘e promover o crescimento do numero de empregos, e preservar o livre mercado.

Nas vésperas do pleito, continuam a ser feitas alegações sobre abusos que Humala teria cometido quando era militar, durante a sangrenta batalha contra os insurgentes do Sendero Luminoso. Alegações que Humala nega e atribui a táticas de difamação de seus oponentes políticos.

Humala admite ter admiração por Hugo Chavez, da Venezuela, mas assinala uma diferença: ele não é socialista, e sim democrata populista.

Estão a competir 20 candidatos à presidência no Peru. É pouco provável, portanto, que algum deles consiga os 50 por cento de votos necessários para evitar uma segunda volta no pleito. E alguns analistas políticos prevêem que, na segunda volta, muitos pequenos partidos se unirão para fazer oposição ao radical Humala.