Guerra de Guerrilha na FLEC

Em Setembro de 2004, em meio à pressão militar do governo de Angola, as facções independentistas de Cabinda, reunidas em Helvoirt, na Holanda decidiram congelar a luta armada. Sem dar por ela as mesmas facções estão de novo em pé de guerra. Desta vez, a guerra de guerrilha opõe várias tendências do movimento. De um lado o presidente Nzita Tiago agrupado em Paris com alguns apoiantes, entre os quais familiares, do outro António Bento Bembe, refugiado em Brazzaville no Congo desde Novembro do ano passado.

As relações entre os dois conheceram algum vazio após o desaparecimento súbito de Bento Bembe da Holanda, onde respondia a uma acusação de rapto movida pelo governo norte-americano.

Bento Bembe admitira mais tarde que tinha sido traído, sugerindo também que a luta armada já não fazia sentido.

Aparentemente à margem do que passava, Nzita Tiago decidiu, primeiro, questionar Bento Bembe sobre estas declarações. Nesta segunda-feira e após consultas com membros de sensibilidades politicas de Cabinda, entre as quais a associação Mpalabanda, Nzita foi um pouco mais longe. Afastou Bento Bembe dos cargos de secretário geral da FLEC, e de presidente do Fórum Cabindês para o Diálogo.

Para o seu lugar foram nomeados, respectivamente, Macário Lembe Kapita e António Nzita Bemba, filho de Nzita Tiago. Falando para a Voz da America a partir de Paris Nzita Tiago disse ser necessário libertar Bento Bembe para outras tarefas fazendo-o seu conselheiro político e diplomático. “A presidência precisa de pessoas com experiências pessoas que falam duas, três línguas, que é o caso de Bento Bembe. Tem apoios fora, logo é um homem que merece este lugar”.

Esta terça-feira, pelos vistos contrariados, Bento Bembe e os seus apoiantes disseram à Voz da América que não podiam aceitar as posições de Nzita. Acusaram o seu próprio presidente de estar a sabotar o processo negocial com o governo de Angola, e de atropelar os regulamentos da FLEC. Macário Lembe Kapita, segunda-feira nomeado por Nzita Tiago foi quem respondeu ao presidente. Fê-lo rejeitando o novo cargo, e enviando um recado a Nzita Tiago .“ Nós reconhecemos a autoridade dele dentro dos estatutos. Se, entretanto continuar a violá-los como fez agora poderá perder esta legitimidade O Sr Nzita não tem competência para substituir o secretário-geral, nem tão pouco para nomear quem quer seja sem que as pessoas sejam ouvidas. Nós consideramos esta decisão como uma sabotagem ao processo de paz. É um esforço do senhor Nzita Tiago para fazer prevalecer a guerra. Não é isto que o nosso povo quer. ”.

António Bembe e a sua corrente, tomam este episódio como encerrado. Têm em mãos, dizem eles, outras prioridades. “Estamos a preparar com todas as sensibilidades uma resposta à proposta do governo sobre a situação no enclave. Em devido a comunidade internacional saberá da nossa posição. A proposta do Governo diz aquilo que o governo quiz dizer. Vamos ver se nos satisfaz ou não.” Da resposta poderá vir uma posição do movimento sobre o futuro do enclave, seja independência seja autonomia.

“A independência é um direito mas, por outro lado, sendo homens que vivem numa sociedade com problemas, interesses, muitas das atitudes que tomaremos serão jurídicas e não políticas. Há que levar em conta também a conjuntura na África Central, pois há situações nesta região que influenciam a situação em Cabinda. O fórum é que vai decidir”.

Macário Lembe diz também que em momento algum a assistência que o governo prestou a Bento Bembe durante a sua detenção na Holanda afectará posição do fórum. “O presidente Bento Bembe estava numa posição triste, pelo que ninguém pode ignorar o gesto positivo do governo. Em todo o caso não podemos confundir as coisas: uma coisa é o gesto positivo do governo, e ninguém pode condenar o presidente Bembe por ter aceite a ajuda do governo de Angola e de outras instituições, outra coisa é o problema que nos separa”.