As Nações Unidas calculam haver cerca de 25 milhões de pessoas sem casa em todo o mundo em consequência de conflitos. Mais de metade dessas pessoas estão em África. Isso significa que existem três vezes mais deslocados internos em África do que refugiados, cujo numero anda a volta dos três milhões.
Dennis McNamara, chefe da divisão das Nações Unidas que lida com pessoas deslocadas internamente, classifica-os em África como novos refugiados do continente. Mas, diz que essas pessoas não atravessaram uma fronteira internacional e não são reconhecidas como refugiados. Por esse facto, diz, as Nações Unidas não tem uma agencia que vele por essas pessoas e não existem convenções internacionais que as protejam.
“Massivo. Generalizado. E continua. O flagelo de África. Um vasto assunto humanitário para o qual não existe uma agencia, para o qual não há convenções internacionais, nenhuma atenção especial e uma cobertura da imprensa mínima. Um terço dessa população deslocada não é mesmo alcançada por outras agencias. Existem 250 mil somalis deslocados em Mogadiscio e não podemos lá ir. Não temos autorização para aterrar lá os nossos aviões.”
McNamara afirma que os deslocados internos na maior parte das vezes recebem pouca ajuda dos seus governos que, em muitos casos, são responsabilizados por violações de direitos humanos que levam as pessoas a deixarem as suas casas.
McNamara diz que o problema está escondido. Nota, por exemplo, que ninguém sabe quantas pessoas estão deslocadas na parte leste da Republica Democrática do Congo. E isso porque muitas pessoas estão escondidas nas florestas ou dispersas por aldeias pobres.
McNamara cita um recente artigo publicado num jornal britânico que sublinha a enormidade do problema. O artigo diz que 38 mil pessoas morrem todos os meses de causas directas, ou indirectas, da guerra no leste do Congo.
O jornal classifica isso como o conflito mais mortífero desde a Segunda Guerra Mundial, ultrapassando o numero combinado de mortos dos conflitos na Bosnia-Herzegovina, Ruanda, Kosovo e Darfur, no Sudão.
McNamara diz que as armas são o cerne do problema. Afirma que o Ocidente deve parar de vender armas a África.
“Não um embargo, não uma sanção, simplesmente uma cessação voluntária de venda de todo o tipo de armas a África. O continente africano está a nadar em armas. Os miúdos nas ruas de Nairobi, em Cartum, em Abidjan, em Monrovia tem armas nos bolsos. Eles disparam contra motoristas. Roubam nas estradas apontando espingardas AK-47......Nós fornecemos as armas. Nós, o Ocidente, nós, o G-8.”
McNamara diz que os ministros da Defesa gastam um trilião de dólares por ano a comprar armas. Diz que é difícil desistir dos lucros das compras. Mas adverte que as guerras, deslocações, mortes e violações do espirito e do corpo humanos continuarão em África até que os vendedores de armas deixem de negociar como o tem feito até agora.