No Zimbabwe, a inflação no ano que está prestes a findar, chegou a roçar a fasquia dos 500 por cento e os economistas prevêem que possa vir a disparar, em duas vezes mais essa mesma percentagem. Para já nenhum outro país da África Austral, tem uma inflexão acima dos 20 por cento.
O coordenador da Agencia Humanitária das Nações Unidas, Jan Egeland depois de recentemente ter realizado uma breve visita ao Zimbabwe, disse que os país está por assim dizer a esvair-se.
Nas suas palavras, a situação é tão seria e difícil, que a esperança de vida decaiu dos 60 anos dos outros tempos, para os trinta actuais. Egeleland atribui tal estado das coisas, a epidemia da Sida, a situação de insegurança alimentar e o colapso total dos serviços sociais do estado.
O Zimbabwe, convém relembrar foi em tempos considerado um celeiro de África, mas políticas governamentais desastrosas, nomeadamente a de expropriação de terra levada a cabo nos últimos cinco anos, agravado pela escassez de chuva deixaram o país numa situação de calamidade alimentar, a ponto de não produzir o suficiente para alimentar a sua própria população. E milhões de zimbabweanos dependem hoje da ajuda humanitária internacional.
John Richard, economista e consultor financeiro diz que o gastos do governo acabam por fazer disparar ainda mais a inflação naquele país da África Austral.
‘Os gastos do governo ate Setembro, aumentaram em mil porcento. Quando você gasta mil porcento, acaba por ter decerto a mesma percentagem em termos de inflação. A economia real do país esta a retrair-se. Isso significa que o governo devera ter-se retraído em 45 por cento. A economia formal esta a gerar menos receitas, em impostos, para o pagamento dos salários aos funcionários públicos. A incompatibilidade entre as receitas e a despesa, significa que existe apenas uma opção a do governo colocar mais dinheiro a circular para financiar o déficit orçamental ... o que isso significa aumentar a inflação.’
Rudo Chibebe encontra-se entre os 20 por cento de zimbabweanos com emprego. O seu salário e acima do salário mínimo, auferido por mais de um milhão de zimbabweanos, que são cerca de 13 dólares americanos por mês, não paga a renda e vai conseguindo gratuitamente comida para ela e os filhos.
Chibebe diz que, tal qual muitos compatriotas seus, que fixaram residência nas grandes cidades, ela costumava viajar para a área rural de onde e originaria. Mas diz que hoje esse desejo e completamente irrealizável..
‘Ha dois anos atras, costumávamos ir a casa e comunicar com as nossas famílias. Hoje, desde o ano passado, já não conseguimos custear a nossa ida aos nossos locais de origem... isso sem falar das propinas escolares ... muitas crianças não vão conseguir ter acesso à escola no próximo ano... devido às propinas que são cerca de seis milhões de dólares zimbabweanos.’
Diga-se, seis milhões de dólares zimbabweanos, são o equivalente a 80 dólares americanos no cambio oficial.
Rudo Chibebe diz que os preços dos alimentos básicos tornaram-se insuportáveis.
‘Este ano está pior, os preços aumentam a cada hora... Se for a loja para comprar uma barra de sabão, e se encontrar alguém no caminho de casa, não se pode dizer o preço a essas pessoas... porque se ela for à mesma loja, verá que o preço desse mesmo produto aumentou em questão de horas, em cerca de cinco mil dólares locais ou mais.’
Os residentes das áreas urbanas foram os mais afectados pelo actual estado das coisas, sobretudo em 2005. Muitos viram as suas residências e negócios serem demolidos pelo governo durante a chamada campanha de renovação urbana, rotulada pelo governo como a campanha para se livrar do lixo.
O governo do presidente Robert Mugabe confirmou ter demolido centenas de milhares de casas e pequenos negócios, como parte dessa chamada campanha de renovação. Os Estados Unidos preferem rotulá-lo de desastrosa.
John Mawire foi uma das vitimas da campanha de demolição. Viu a sua casa ser destruída, incluindo um quarto que tinha alugado ao proprietário de um pequeno negocio de tapeçaria.
Diz que quando o governo iniciou a destruição das casas, usou todas as suas economias para transferir a tempo, todos os seus bens e equipamentos para um local mais seguro.
‘Portanto, durante a operação eles destruíram este local e tive que levar todas as minhas coisas para Mufakose, num outro lugar... para guardar as minhas coisas... gastando algum dinheiro...e quando terminaram a operação de desmantelamento das casas, não tinha dinheiro para começar tudo de novo.’
Alguns economistas acreditam que, caso chova no Zimbabwe durante este Verão e a industria mineira aumente de rendimento, a inflação poderia ser estabilizada no próximo ano ou mesmo reduzida.
Mas ate lá, os zimbabweanos vão continuar a debater-se com a situação de seria carência alimentar e de interrupção dos serviços básicos, nomeadamente a electricidade e a água.