A guerra de 1812

A guerra de 1812 teve como a sua primeira fase a outra guerra com os índios do noroeste, do vale do Ohio e terras vizinhas do sul do Canadá inglês, onde por isso mesmo a acção inglesa se tinha tornado também mais notória, desde 1801.

Tomé Mbuia-João: Democracia Americana - Os Primeiros 45 Anos

Dizíamos na conversa passada que um famoso autor dos anos 90, de 800, ainda muito lido, por ter influenciado muito a interpretação da história americana disse que a fronteira determinou a cultura americana tal como hoje se transparece. Fronteira, não o limite político entre uma nação e outra, ou muita, mas referia-se Frederick Turner a espaços abertos nos horizontes prontos a ocupar, pelo primeiro a chegar a ideia romana da ”res nullius primi occupantis.”

Assim consideravam os americanos dos estados organizados na costa as terras que se abriram lá para o interior (o oeste)”the west” como ainda dizem. Na realidade geográfica porém, não eram terras de ninguém. Ocupavam-nas comunidades Índias de varias denominações como temos dito já aqui noutros contextos.

Capitulo grande este da historia americana, de difícil interpretação por razões varias, algumas muito óbvias. Foi aqui, neste processo do avanço para as terras do interior, que Frederick Turner consubstanciou a sua tese - agora clássica - da cultura americana, produto da fronteira, estas terras e outras ocupadas nesta mesma forma, não apenas com os índios, seus donos primevos mas ainda em disputas com as outras potências europeias, com a Inglaterra, como estamos a ver (com a França) menos depois de 1763, com a Espanha sobretudo, além do Mississipi e no sudoeste das duas Floridas e na Louisiana.

Dizíamos que a fronteira tornara-se epopeia nacional, de contos e feitos, heróis e rufiões, de todas as cores, brancos, negros e também índios, para sempre inscritos nos anais da nação americana, este também o panorama histórico que cobriu esta guerra de 1812, com a Inglaterra, cuja primeira fase pela lógica da situação, como dizíamos ainda não deixou de começar pela confrontação com estes mesmos índios que se diziam protegidos da Inglaterra, e seus coniventes também contra o avanço das vagas sucessivas dos pioneiros da costa.

O primeiro capitulo desta violência - da nossa história aqui - começou depois da aquisição da Louisiana, em 1803, ainda se recordam. Jefferson o presidente que até aí não tinha uma política índia muito definida ordenou que varias comunidades índias abandonassem as suas terras para mais além dos confins do Mississipi, para dar lugar aos aventureiros da costa sedentos de novos espaços abertos lá nas planícies, vales e montanhas do interior. Cedo novos estados surgiam no interior, desde a fronteira espacial do sudoeste trans-apalachiano, até as terras do noroeste dos Grandes Lagos, Kentucky, Missouri, Ohio, Illinois entre outros novos estados implantados em terras - agora nominalmente índias - forçados estes (os índios) a se acomodarem à nova ordem das coisas, a fugir ou a resistir a fim de evitar a extinção.

Enquanto algumas comunidades índias se conformavam pela aculturação pacifica ao avanço dos colonos da costa muitas vezes também dos missionários das igrejas, na sua maioria protestantes, outras optavam pela resistência armada, aquelas dos Territórios do Noroeste mais notoriamente, dos do Ohio e do Illinois entre outros, terras vizinhas ao sul imediato do Canadá inglês, onde por isso mesmo a acção inglesa se tornara também mais notória na região. Esta guerra escreveu capítulos de gloria também na história americana.