As influencias da Núbia sobre as regiões do compasso nilótico, norte-sul, leste-oeste foram múltiplas desde a ideia de monarquias de direito divino à introdução de formas do cristianismo monofisita, próprias do Vale do Nilo, e mais variedades de cultura material durante o apogeu da monarquia núbia antes da ocupação e consolidação do Islão no Vale do Nilo na primeira parte do século dezasseis: Tomé Mbuia-João: A África Sudânica na História do Continente Africano.
Na conversa passada dizíamos que a Núbia nas suas relações com o resto da África, norte e leste, se tinha tornado mestra do Egipto faraónico durante a quinta dinastia enquanto para o leste do Vale, os Núbios desenvolveram uma rede de intensas actividades comerciais com os portos do Mar Vermelho, Suakin e Adulis, ao mesmo tempo em que catequizavam na fé monofisita os povos que encontravam pelo caminho, os Bejas dos planaltos a oeste de Axum Etiópia, a Etiópia, berço independente da cristandade monofisita também junto ao Mar Vermelho, ou o Mar Eritreu como preferiam chamá-lo os navegadores greco-romanos na região na obra que ficou a ter este título ”Périplo do Mar Eritreu”, um livrito pequenino muito interessante se o apanharem algures leiam-no, é sobre a costa do Mar Vermelho - o Mar Eritreu - por conseguinte até ao fundo da costa leste-africana, até ao norte do nosso Cabo Delgado perto dali onde havia uma enseada que chamavam Rapta, dos séculos sexto ao nono via marítima esta através da qual os comerciantes bizantinos um dos quais seria o primeiro abuna da Etiópia, Bispo, o Bispo Frumêncio trouxeram a Cristandade para Axum, a Etiópia, assim como Longinos o fora para os Núbios do Vale. Promessa feita, a história da Etiópia será assunto prolongado aqui mesmo nestas conversas em contextos futuros.
Quanto à historia militar, leste-oeste da Núbia, a Núbia não se medira inicialmente de igual para igual com Ezana, o primeiro monarca de Axum, Ezana que se gloriava nas lápides que nos deixara das suas proezas de ter batido e humilhado os reis do Vale. Falava dos Núbios do Nilo Azul rio abaixo nas confluências com o Nilo Branco e Atbara durante o período meroítico. Mas a Núbia estado sucessor de Meroe e Nepata, inverteu a situação desde logo produzindo uma serie de monarcas, alguns dos quais daquelas mesmas dinastias que ocuparam tronos faraónicos no Egipto – Shabaka, Piankhy(Penye), Taharka e outros, como vimos noutros contextos.
Mas daqui viramos para a Núbia nas suas relações com os vizinhos do sul e oeste do compasso nilótico. Começa aqui também um capitulo muito interessante, falado e actualizado pela historiografia contemporânea africana sobre a historia do Vale do Nilo. Havemos de encontrá-la por extenso quando formos a falar sobre a historia dos Grandes Lagos (e os seus povos) os Shilukes, sobretudo estes, mas também os Nuers, Dinkas e Zandes, Madis e outros, os propriamente ditos nilotas, ou sudânicos, leste, centro e oeste.
E quanto ao extremo oeste, na linha nilo-sahariana, até ao Kanem e o Bornu, o Kanem-Bornu da Bacia Sudânica, as influencias nilóticas foram enormes, a ideia das monarquias de direito divino, por exemplo, a metalurgia e o cristianismo e outras de cultura material, enfim passaram para ali antes da consolidação do Islão no Vale. De tudo isto falaremos muito por extenso. De momento vamos dar tempo ao tempo.