No fim da década de 90 a guerra civil na Serra Leoa fez dezenas de milhar de refugiados tais como a então adolescente Maria Jaloh. Ela lembra-se bem do seu primeiro encontro com as forças rebeldes, quando muitos dos seus colegas foram raptados e o seu melhor amigo foi morto. Os rebeldes mataram igualmente o pai e o irmão de Jaloh pegaram fogo à sua casa e levaram-na com eles. A rapariga foi salva anos mais tarde pelas forças Oeste Africanas que intervieram na Serra Leoa em 1998. Fugiu então para a Guiné e depois para o Canadá. Actualmente é uma estudante aqui nos arredores de Washington depois dos Estados Unidos lhe terem dado asilo.
Ainda aqui na zona de Washington, um boliviano de nome Roberto contou-nos uma história diferente. Roberto é um dos muito emigrantes ilegais que todos os dias se juntam nalgumas ruas da região de Washington esperando ofertas de trabalho à tarefa .
“Vim para cá com o mesmo objectivo dos outros emigrantes: avançar e ajudar a minha família. Tenho duas filhas, e no meu país não lhes podia garantir segurança económica nem oportunidades de educação.”
Roberto já não vê as suas filhas e a sua mulher há cindo anos. Mas, todos os meses lhes envia dinheiro e espera um dia trazer a sua família para os Estados Unidos.
O professor de história da Universidade Americana, Alan Kraut, afirma que as historias de Mariam e de Jaloh espelham as de milhões de emigrantes de outros tempos de outras terras. Segundo Kraut os emigrantes actuais tanto da América Latina como do sudeste asiático têm muito em comum com aqueles que no passado vieram da Itália, da Polónia, da Rússia ou da Irlanda. Eles vêm para a América por razões económicas ou tentam escapar a regimes políticos opressivos.
Mariam Jalloh afirma que pretende tornar-se numa cidadã americana e congratula-se com a oportunidade de poder tirar um curso de enfermagem. Para Jaloh na América nada é impossível desde o momento em que a pessoa esteja realmente apostada em alcançar um objectivo.
Contudo para Roberto, que não dispõe de autorização legal para trabalhar, as suas opções de emprego são limitadas. Afirma ele que o dia a dia para ele e para outros emigrantes ilegais é um desafio constante.
“Os latino-americanos trabalham em restaurantes, como serventes de limpeza, na construção e em todos os trabalhos árduos. Somos as pessoas mais marginalizadas deste país.”
O historiador Alan Kraut compara as experiências de alguns emigrantes latino-americanos actuais com as de outro grupo : os católicos irlandeses que chegaram à América em grande número em meados do século 18 e que tiveram que lutar pela melhoria das suas condições económicas e pela aceitação social.
Aquele historiador salienta contudo que apesar de se tratar de um país de emigrantes dos seus descendentes, as comunidades já estabelecidas nem sempre acolheram bem os recém chegados.
Segundo Kraut não é sempre uma transição fácil. Existem oportunidades nos Estados Unidos mas também há custos associados às mesmas. Os americanos nem sempre ficam satisfeitos com a chegada de novos emigrantes as suas fronteiras.
Historicamente os emigrantes foram muitas vezes acusados de estarem a roubar os empregos aos trabalhadores nascidos na América, de fazerem descer os salários e de sobrecarregarem os serviços governamentais. As tensões chegaram por vezes a degenerar em violência como por exemplo em Los Angeles em 1871 quando uma multidão de brancos linchou 19 chineses, ou no ano dois mil quando os exilados cubanos em Miami na Flórida se revoltaram com a decisão de repatriar o jovem cubano Elian Gonzalez .
Actualmente muitos americanos consideram ineficazes as leis da emigração americanas e afirmam que as fronteiras nacionais não estão bem guardadas. Uma coisa é certa no entanto: os Estados Unidos continuam a atraírem emigrantes.
Segundo os serviços de emigração entram no país todos os anos , legal ou ilegalmente um milhão e 300 mil pessoas. Neste momento, os habitantes dos Estados Unidos nascidos no estrangeiro são cerca de 12 milhões ou seja perto de 12% do total da população. Esse número é muito mais elevado do que os 4,7% registados em 1970 mas menor do que os 15% registados em 1910 quando a emigração italiana atingiu o seu máximo.
Mas, como é que os Estados Unidos serão dentro de 50 anos.
Segundo o demografo Fred Hollmann uma viragem histórica depara-se no horizonte. Os brancos não latino-americanos não continuarão a ser a maioria como é o caso agora. Segundo Hollmann as ultimas projecções governamentais indicam que aquele grupo passará a representar menos de 50% da população dentro de cerca de 50 anos.
Por outro lado, a população latino-americana aumentará significativamente e a população asiática continuará a crescer também rapidamente.