O envolvimento de crianças no garimpo ilegal de ouro, no interior da província angolana da Huíla, está a levar muitas delas a abandonar a escola.
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O número exacto de crianças que se entregam ao garimpo ilegal é desconhecido, mas no município de Chipindo, por exemplo, a pouco mais de 450 quilómetros a norte da província, uma escola, recentemente reabilitada, com sete salas de aula e que devia receber quase setecentos alunos nos dois períodos do dia, tem registado grande absentismo, devido à lavagem do ouro.
Para o professor Artur Lopes se a pobreza das famílias está na base da exploração ilegal de ouro, a aposta está ter um impacto contrário.
“Chipindo é uma terra muito produtiva e as famílias ao invés de estarem focados nos seus trabalhos do campo, na agricultura, elas optam pelo garimpo e isso tem trazido muita fome para as famílias, sobretudo nas zonas rurais”, disse.
O padre da missão católica de Sangueve, Benedito Kapiñgala, reconhece que há desafios a vencer para mitigar o sofrimento das populações, trazer emprego à juventude e melhorar as condições de vida das comunidades, algo que pode passar pela criação de cooperativas nas zonas de exploração.
O sacerdote católico rejeita a ideia de que o garimpo do ouro, que ameaça comprometer o futuro de centenas de crianças, seja solução para os problemas.
“Na verdade toda a população vai de um canto ao outro, não é que tem ouro, tem miséria! Não tem nada. O inimigo a abater - passe o termo - é o garimpo ilegal e o legal, também deviam-nos dizer quanto é que já tiraram e quanto nos beneficia”, afirmou o sacerdote.
Na Huíla há três empresas exploram o ouro nos municípios do Chipindo e Jamba.
Contactadas pela Voz da América, a Rede Crianças da Huíla e a organização Criança Feliz, que trabalham na promoção e defesa dos direitos da criança, evitaram tecer qualquer comentário sobre o assunto.
Chipindo, Jamba e Cuvango são os municípios onde vários caminhos de cidadãos convergem na luta pela sobrevivência, atravées da prática do garimpo ilegal, com os riscos associados.
O administrador municipal de Chipindo, Ângelo Singue, sabe que o desemprego na região, agora a braços com o garimpo ilegal, é um dos desafios a enfrentar.
É preciso“estreitar parcerias com os investidores instalados no município e atrair outros dos vários sectores no sentido de massificarmos os postos de emprego para a nossa juventude”, disse.
No município do Cuvango uma pessoa morreu recentemente soterrada e outras quatro acabaram feridas quando tentavam explorar recursos minerais na localidade da Mumba, em consequência dos riscos associados à exploração ilegal.
A Voz da América tentou sem sucesso ouvir o governo local.