Governo angolano encerra inscrições em Faculdade de Medicina e contrata professores cubanos

Universidade Agostinho Neto, Luanda, Angola

Má qualidade do ensino deverá levar a outras suspensões das matrículas

Especialistas ligados ao ensino e à prática da medicina manifestaram ceticismo em relação à vinda de professores cubanos para resolver a crise de qualidade do ensino superior do país que levo o governo a proibir a inscrição de novos alunos na Faculdade de Medicina Agostinho Neto, nos próximos dois anos.

Your browser doesn’t support HTML5

Angola encerra inscrições em faculdade de medicina e manda vir professores cubanos -2:50

O Presidente da República, João Lourenço, autorizou, no mês de Março, a contratação de especialistas cubanos para as universidades públicas angolanas, por via de dois contratos avaliados em cerca de 38 milhões de dólares americanos, no quadro da cooperação no domínio da formação de quadros entre Angola e Cuba.

A escolha recai sobre especialistas em Ciências, Engenharia e Tecnologias e para as áreas da Medicina e das Ciências da Saúde.

A decisão presidencial foi tomada depois do Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação ter proibido a Faculdade de Medicina, da Universidade Agostinho Neto (FMUAN), de receber novos estudantes, durante os próximos dois anos letivos.

O departamento governamental tem estado a avaliar a qualidade das universidades e dos institutos politécnicos existentes no país e terá concluído que aquela instituição não tem “o indicador desejado no que concerne à qualidade de ensino”.

Os cursos de medicina e ciências da saúde deverão conhecer o mesmo destino depois de terem sido reprovados a 15 de Março, após avaliação externa tendo que se conformar à lei, de acordo com o Novo Jornal.

O médico pediatra e docente universitário, Luis Bernardino, aponta a falta de investimento nas universidades públicas como a causa do baixo nível de qualidade do ensino superior no país.

“Os docentes cubanos não vão criar laboratórios, o que vão fazer é dar aulas teóricas”, afirmou o especialista, que se manifesta apologista da geminação de universidades angolanas e cubanas ou do envio de jovens angolanos para se especializarem no exterior do país, ao invés de contratar médicos daquele país.

Por sua vez, o presidente do Sindicato dos Médicos Angolanos, Adriano Manuel, defende a contratação de médicos angolanos reformados, com o título de doutoramento, para as instituições públicas, “aos quais o estado pagaria menos em relação aos cubanos”.

“Se com um médico cubano o governo de Angola gasta cinco mil dólares eu acho que se der o equivalente a dois mil dólares a um angolano reformado seria uma mais valia”, considera o sindicalista. “Devemos também contratar os angolanos reformados, porque muitos desses médicos cubanos já são velhinhos e outros são recém formados e vêm ganhar experiência em Angola e conhecemos muitos com qualidade muito duvidosa”, acrescentou.

Entretanto, o MESCTI justificou que "o Despacho Presidencial n.o 79/24, de 28 de Março, visa dar conforto contratual para que os referidos profissionais possam dar continuidade às suas actividades e não se pretende com isso substituir ou corrigir as falhas no processo de ensino-aprendizagem nas referidas instituições".

"Os novos contratos não têm relação direta com a importação de novos docentes cubanos, mas sim com a renovação dos contratos dos profissionais que já lecionam nas instituições públicas de ensino superior", apontou.