Por toda a capital, e arredores, ouviram-se tiros e sinais de conflito.
O quartel-general das forças armadas, o aeroporto internacional de Cartum e as áreas em redor do palácio presidencial são os principais campos de batalha entre os militares, leais ao General Abdel Fattah al-Burhan, líder da junta que governa o país desde o golpe de 2021, e as Forças de Apoio Rápido, leais ao General Mohamed Hamdan, o número dois daquela junta.
Os tiroteios afectaram o fornecimento de energia e água na capital, tornando a vida mais difícil para os feridos, com necessidades de higiene maiores, e as pessoas retidas em casa devido aos combates
A situação parecia relativamente calma, ao fim da tarde de segunda-feira, no bairro de Al-Kalakla, a sul de Cartum, e as pessoas aventuraram-se a sair à procura bens de primeira necessidade.
Wisal Mohammed, uma mãe de três filhos, diz que segunda-feira foi a primeira vez em três dias que conseguiu sair e comprar comida para os filhos.
“Estamos encurralados, sem electricidade e água, e não podemos sair se houver uma emergência”, disse à VOA.
Os combates começaram no sábado de manhã, e desde então morreram mais de 100 pessoas e muitas outras ficaram feridas, segundo informações fornecidas pelos médicos.
Hamid Babikir vende legumes numa estrada a sul de Cartum, disse à VOA que não se pode reabastecer no mercado devido
“As estradas estão bloqueadas e não podemos arriscar-nos a ir comprar mais vegetais. Estou a vender hoje o que sobrou de ontem,” disse à VOA. Além disso “toda a gente se queixa do aumento dos preços devido à falta de combustível”.
A lei e a ordem também foram afectadas. Al Muiz Hassan, merceeiro no bairro de Abu Adam a sul de Khartoum, diz-se preocupado com o roubo e só abriu parcialmente a sua loja como precaução.
Hassan pede aos militares que pensem no povo. "Os combates afectaram todas as lojas, não só a minha. Eu não tenho medo de nada... apenas de perder a vida. Os que estão a lutar são todos sudaneses e estão apenas a obedecer a ordens. Esperemos que Deus mude os seus corações".
Os militares disseram, segunda-feira, que restauraram o controle da televisão e rádio estatais que na véspera tinham sido tomadas pelos revoltosos da Força de Apoio Rápido.
A Autoridade Inter-Governamental para o Desenvolvimento da África Oriental, pediu aos presidentes Sudão do Sul, Quénia e Djibuti para tentarem mediar um cessar-fogo.
Apelos à cessação das hostilidades
Entretanto, o secretário-geral da ONU, António Guterres lançou apelo aos líderes das Forças Armadas Sudanesas e das Forças de Apoio Rápido para cessarem imediatamente as hostilidades, restaurarem a calma e iniciarem um diálogo para resolver a crise.
Em comunicado, Guterres condenou a eclosão dos combates, afirmando que a situação já provocou horrendas perdas de vidas humanas, incluindo muitos civis, e advertiu que qualquer nova escalada poderia ser devastadora para o país e para a região. Condenou igualmente as mortes e ferimentos de civis e de trabalhadores humanitários e a localização e pilhagem de instalações. Recordou a todas as partes a necessidade de respeitar o direito internacional, incluindo a garantia da segurança e protecção de todo o pessoal das Nações Unidas e pessoal associado, bem como dos trabalhadores humanitários.
A Grã-Bretanha e os Estados Unidos pediram na segunda-feira uma "cessação imediata" da violência no Sudão.