Analistas dizem que as declarações do Inspector-geral do Ministério da Defesa Nacional, Víctor Muiriquele, de que persistem desafios na identificação dos financiadores da insurgência em Cabo Delgado, mostram que Moçambique ainda não reune capacidades para fazer face ao problema e defendem a capacitação da sua inteligência.
"É importante reconhecer que é um desafio identificar os financiadores do terrorismo em Moçambique", disse o oficial das forças armadas moçambicanas.
O director do Instituto de Estudos Económicos e Sociais de Moçambique (IESE), Sebastião Forquilha, diz que desde o início, estava claro que o país náo reunia capacidades para fazer face ao terrorismo em Cabo Delgado, "porque este é um fenómento complexo, e exige uma capacidade interna de produção e gestão de informação, bem como instituições fortes à altura do desafio, que não era esse claramente, o nosso caso".
Referiu que para além disso, demorou muito tempo para o Estado moçambicano reconhecer, publicamente, que esta face ao problema ligado ao terrorismo de caracter jihadista, "como também as operações no terreno não reflectiam a complexidade do próprio fenómeno".
Para o pesquisador do Instituto Internacional de Estudo de Segurança, Borges Nhamirre, é difícil identificar os financiadores do terrorismo, porque estes são o coração deste fenómeno.
"Os tipos de financiamento são vários, e podem ser contribuições voluntárias de pessoas que vivem na sociedade, e no caso de Cabo Delgado, podem resultar de actividades ilícitas como tráfico de rubis, madeira, entre outros, realçou aquele pesquisador.
Avançou que ainda que o Governo tivesse identificado os financiadores, nunca iria apresentá-los ao público, sempre procuraria neutralizá-los, "porque a partir do momento em que são apresentados ao público, eles mudam de estratégia de actuação.
Nhamirre acrescentou que, face a este problema, as Nações Unidas publicaram, na semana passada, um relatório desenhando o perfil dos financiadores, anotando que as autoridades moçambicanas também têm estado a fazê-lo.
"Ouvi, na semana passada, o Comandante-Geral da Polícia dizer que os insurgentes são financiados por dinheiro de rubis; teoricamente é possível porque temos em Cabo Delgado um submundo de exploração de rubis, que são retirados das matas, são vendidos a estrangeiros, muitos deles que vivem em Montepuez, e portanto, a probabilidade desse dinheiro resultante da venda ilegal de rubis, é muito grande", destacou.
De acordo com aquele pesquisador, não são apenas os rubis, são todos os recursos naturais de fácil extração, o ouro por exemplo, que são sujeitos à mineração artesanal, bem como o tráfico de drogas, para além das isenções a comerciantes ilegais, cujo dinheiro não se sabe qual é o seu destino.
Referiu que isso acontece porque a cobertura territorial do Estado moçambicano é reduzida, para além de que as fronteiras moçambicanas são porosas, sendo por isso que se faz o tráfico de droga, que é baldeada no alto mar e trazida até à costa por pescadores.
Borges Nhamirre assinalou que "para além disso, também podemos falar de interesses das pessoas que têm a capacidade de manipular o Estado, ou seja, mesmo tendo alguns recursos, há pessoas influentes que conseguem manipular o Estado, como é o caso do Partido no poder, cujos negócios ilícitos não são sujeitos à fiscalização do Estado".
Ele defende que face ao problema, o Estado moçambicano tem que melhorar a sua inteligência e esta tem que cooperar com outros países, principalmente a Tanzania, África do Sul entre outros.
"Para além de melhorar a sua inteligência interna, também de reduzir o nível de corrupção, porque em Moçambique, qualquer funcionário do estado pode ser corrompido facilmente, e isso neutraliza a inteligência do próprio Estado", disse Nhamirre.