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África e os desafios da adesão ao G20


Primeiro-ministro indiano Narendra Modi(esq) e Presidente em exerício da União Africana e dos Camarões, Azali Assoumani, (dir) na Cimeira do G20 em Nova Deli, 9 setembro 2023
Primeiro-ministro indiano Narendra Modi(esq) e Presidente em exerício da União Africana e dos Camarões, Azali Assoumani, (dir) na Cimeira do G20 em Nova Deli, 9 setembro 2023

Entre golpes e eleições duvidosas e a defesa dos interesses dos países africanos.

O dia 9 de setembro de 2023 passou a ser histórico para a União Africana (UA), com a organização que reúne 54 países africanos a garantir um lugar permanente no grupo das maiores economias do mundo, o G20.

Esta decisão, anunciada em Nova Deli, na India, terá implicações decisivas para o papel de África na geopolítica global.

Com o continente a enfrentar uma série de desafios, que vão desde os efeitos das alterações climáticas à instabilidade política e à desigualdade económica, especialistas discordam sobre o impacto da adesão ao G20.

Robert Besseling, presidente e diretor executivo da Pangea-Risk, um grupo de consultoria de inteligência com escritórios na África do Sul e na Grã-Bretanha, em conversa com a Voz da América, diz tratar-se de algo mais simbólico do que substantivo.

Golpes e eleições duvidosas, uma dificuldade

Para ele, “o assento da UA no G20 não terá sentido”, se a UA não reagir de forma decisiva a acontecimentos que incluem “a onda de golpes militares e eleições duvidosas que atrasam a trajetória democrática de África nos últimos meses”.

Sete países africanos tiveram golpes de Estado liderados por militares desde 2020, o que levanta dúvidas sobre a estabilidade política, condição básica para que problemas prementes como o terrorismo e a escassez de alimentos em muitos países sejam enfrentados.

Oficiais militares nigerianos anunciando golpe de estado em Niamey, 26 Julho 2023
Oficiais militares nigerianos anunciando golpe de estado em Niamey, 26 Julho 2023

Outro entendimento tem Dennis Matanda, professor adjunto de política americana e negócios internacionais na Universidade Católica, que ao falar no programa televisivo “África 54”, do serviço da Voz da América em inglês, considera que a adesão de África ao G20 pode render dividendos.

“Há aqui uma oportunidade real para a União Africana sentar-se à mesa. E isto é uma força e esta é a oportunidade”, destaca Matanda, para quem “o significado aqui é que, pela primeira vez, a União Africana está a ser justaposta à União Europeia”.

Robert Besseling, no entanto, tem dúvidas sobre a capacidade da UA em agir de forma coesa, e afirma que a adesão da UA ao G20 é impulsionada principalmente pelas tensões no cenário mundial entre alianças concorrentes.

“O G20 está a tornar-se cada vez mais um contrapeso aos BRICS, liderados pela China, e a entrada da UA deve ser vista nesse mesmo contexto de rivalidade geopolítica”, destaca Besseling.

A hora dos africanos olharem para seus interesses

Numa nota mais positiva, aquele consultor aponta que a entrada da UA no G20 pode, no entanto, ajudar a diversificar as alianças globais e abrir novos caminhos para a cooperação.

Diplomacia, União Africana, Adis Abeba, Etiópia, Fevereiro 2023
Diplomacia, União Africana, Adis Abeba, Etiópia, Fevereiro 2023

Por outro lado, Dennis Matanda afirma ter chegado a hora de os países africanos defenderem os seus próprios interesses e deixarem de ser usados para promover os objetivos das potências mundiais.

“Penso que precisamos deixar de pensar no que os outros lugares querem, no que a China quer, no que a Europa quer, e iniciar o processo de geração da própria narrativa de África”, sustenta Matanda. Aquele académico afirma ainda que a “África, a União Africana, precisa realizar uma avaliação abrangente das suas oportunidades, e a principal oportunidade aqui são as instituições financeiras de desenvolvimento da região”.

À medida que o G20 evolui para um fórum de influência considerável, Matanda considera que a presença da UA amplia a voz do continente na arena mundial.

“Se quiserem que o capital global aja em África, é preciso que se juntem à mesa com as melhores pessoas que possam realmente controlar as finanças e basicamente canalizar esses recursos para as oportunidades que proporcionam o impacto mais eficaz para a região, e a partir dessa perspetiva precisamos e lembrar que a União Africana pode ser tudo o que quiser, mas precisa de ter mais poder”, conclui Matanda.

Salem Solomon

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