O romance “Vidas de Areia” é a mais recente obra literária do escritor e Jurista Divaldo Martins, inspirada na realidade sócio-política de Angola no periodo dos conflitos armados e pós-guerra.
As histórias apresentadas na obra, em 432 páginas, estão resumidas na imagem destacada na capa do livro: o retrato de uma mulher zungueira (vendedora ambulante) que circula por entre duas realidades da mesma cidade. De um lado a baixa de Luanda e do outro o musseque com algumas crianças a brincarem na lixeira com objectos bélicos que representam os vestígios da guerra que durou cerca de 30 anos.
A obra literária lançada a 12 de Maio deste ano, no Palácio de Ferro, aborda vários contextos da história recente do país, o modo de vida das pessoas, das discrepâncias sócio-económicas e as marcas da guerra que despedaçou o país.
O artista das letras lembra que os conflitos armados tornaram o povo angolano “igual aos animais”, na medida em que os angolanos foram levados a odiar e matar os seus próprios irmãos.
“A guerra nos tornou iguais aos animais selvagens. Nós fomos levados a odiar pessoas e nossos irmãos de sangue. Houve pessoas de um e doutro lado que eram irmãos de sangue e que combateram estando na situação de poderem ter que matar o outro”, diz o também antigo segundo Comandante do Comando Provincial da Polícia Nacional na Lunda Sul.
A sua intenção primária não é moralizar as pessoas, mas mostrar uma realidade capaz de provocar mudanças positivas na sociedade. A importância do amor ao próximo e do sentido de perdão entre os angolanos é um dos assuntos patentes na obra.
Assimetrias socio-económicas
Divaldo Martins mostra também em “Vidas de Areia” duas facetas opostas de Luanda, a capital mais cara do mundo, onde num mesmo município duas realidades sócio-económicas opostas se cruzam.
A baixa de Luanda é representada pelo Bairro Miramar, onde habitam maioritariamente pessoas da classe alta. Já o distrito do Sambizanga representa o musseque (bairro de pobres). As duas zonas pertencem ao mesmo município sendo divididas apenas por uma estrada, porém são completamente opostas no modo de vida das pessoas. Estas realidades próximas, porém de muitas de muitas discrepâncias e assimetrias, foram fontes de inspiração de Divaldo Martins.
Divaldo Martins não escreve de forma inocente, outra faceta da sua obra é chamar atenção para fenómenos sociais como a pobreza que “grassam” a grande maioria da população angolana. Para o escritor a ideia não era retrata a pobreza, mas como as pessoas são.
Diz o escritor que “não seria justo nem credível retatar uma pessoa do Sambizanga que não fosse pobre, embora no Sambizanga possa haver pessoas ricas. Mas o normal de um musseque é as pessoas terem dificuldades sociais, faltar água, faltar luz, viver em casas com poucas condições. No Miramar o contrário as pessoas têm guardas, têm comida a fartura, viajam nas férias. Até quando são castigadas viajam para Londres porque é mais frio que Lisboa”.
Para o antigo Porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional existem em Luanda muitas pessoas que ainda vivem em condições precárias,com uma qualidade de vida aquém do normal.
“A pobreza claro que nos preocupa. Como escritor não escrevo de forma inocente. Nós andamos pela cidade de Luanda e apercebemos que ainda há pessoas que têm uma qualidade de vida muito abaixo daquilo que se espera”.
Nasceu no Bairro Popular em 27 de Fevereiro de 1977, é casado e pai de cinco filhos. Tem duas licenciaturas: Em Ciências Policiais, pelo Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, em Portugal, e em Direito pela Universidade Agostinho Neto.
Actualmente coordena o projecto Ler Angola enquadrado num programa macro denominado Amo Angola, uma iniciativa do Governo angolano que visa realçar os aspectos positivos da cultura literária angolana.