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Venezuela bloqueia observadores eleitorais e aumenta a preocupação


Venezuelanos preparam-se para votar nas eleições presidenciais
Venezuelanos preparam-se para votar nas eleições presidenciais

Maduro enfrenta o pouco conhecido ex-diplomata Edmundo Gonzalez Urrutia, que substituiu Machado nas urnas. As sondagens dão a vitória a Urrutia.

As preocupações sobre a imparcialidade das eleições presidenciais na Venezuela aumentaram na sexta-feira, 26, quando Caracas foi acusada de impedir a chegada de observadores internacionais para a votação de domingo, incluindo uma delegação de ex-presidentes.

No mais recente golpe para um período eleitoral já conturbado, o Panamá disse que as autoridades tinham impedido um voo que transportava antigos líderes latino-americanos - todos críticos do Presidente Nicolas Maduro - de deixar o seu aeroporto internacional.

Autoridades colombianas disseram ter sido impedidas de entrar no aeroporto de Caracas, assim como deputados conservadores espanhóis e senadores chilenos.

O socialista Maduro, de 61 anos, tentará ser reeleito no domingo para um terceiro mandato de seis anos, entre acusações de perseguição da oposição por um regime cada vez mais autoritário.

Edmundo Gonzalez, candidato da oposição à presidência da Venezuela, e Maria Corina Machado, líder da oposição, fazem campanha em Caracas. Fotografia de arquivo
Edmundo Gonzalez, candidato da oposição à presidência da Venezuela, e Maria Corina Machado, líder da oposição, fazem campanha em Caracas. Fotografia de arquivo

No ano passado, o seu governo acordou com a oposição a realização de eleições livres e justas em 2024, com a presença de observadores internacionais, o que lhe valeu um alívio temporário das sanções dos Estados Unidos.

Mas, desde então, renegou algumas das condições e as instituições leais impediram a líder da oposição Maria Corina Machado de concorrer contra ele.

Na sexta-feira, o Panamá disse que a sua ex-presidente Mireya Moscoso, bem como os antigos líderes Miguel Angel Rodriguez da Costa Rica, Jorge Quiroga da Bolívia e Vicente Fox do México, tiveram o seu avião retido.

O grupo, que também incluía a ex-vice-presidente colombiana Marta Lucia Ramirez, desceu para permitir que o avião, com muitos eleitores venezuelanos a bordo, levantasse voo.

As autoridades panamenhas disseram que o atraso afetou vários voos de e para a Venezuela. O Panamá convocou o representante diplomático da Venezuela no país para dar explicações.

Diosdado Cabello, vice-presidente do partido governamental da Venezuela, avisou esta semana que os ex-presidentes seriam expulsos se viessem, chamando-lhes "inimigos deste país".

"Um mau sinal para domingo", disse Fox, na sexta-feira, numa entrevista à rádio mexicana Grupo Formula. "Fomos retirados do avião com chantagem e pressão da Venezuela".

A rádio colombiana informou que a senadora Angelica Lozano foi impedida de entrar em Caracas e depois deportada.

E em Espanha, o Partido Popular (PP), da oposição conservadora, disse que uma delegação de 10 membros dos seus parlamentares foi detida em Caracas pelo "tirano Maduro".

O líder do partido, Alberto Nunez Feijoo, exigiu a sua "libertação imediata" e a intervenção do governo espanhol.

Fontes do Ministério dos Negócios Estrangeiros disseram à AFP que o partido tinha sido informado de que o seu pedido para observar a votação tinha sido recusado por Caracas.

"O chavismo não quer testemunhas", disse o porta-voz do PP, Miguel Tellado, referindo-se ao movimento populista criado pelo antecessor de Maduro, Hugo Chávez. "Não quer que a comunidade internacional tenha olhos e ouvidos na Venezuela este fim de semana", acrescentou na rede social X.

Esta semana, Caracas também retirou um convite para observar a votação ao ex-presidente argentino Alberto Fernandez, depois de este ter instado publicamente Maduro a aceitar o resultado, mesmo que perca.

Anteriormente, tinha cancelado um convite a peritos da União Europeia, mas autorizou a presença de observadores da ONU e do Centro Carter, sediado nos EUA.

'Banho de sangue'

No domingo, 28, Maduro enfrentará o pouco conhecido ex-diplomata Edmundo Gonzalez Urrutia, de 74 anos, que substituiu Machado nas urnas e deverá ganhar, segundo as sondagens, por uma larga margem.

Edmundo Gonzalez, candidato da oposição à presidência da Venezuela, e Maria Corina Machado, líder da oposição, fazem campanha em Caracas. Fotografia de arquivo
Edmundo Gonzalez, candidato da oposição à presidência da Venezuela, e Maria Corina Machado, líder da oposição, fazem campanha em Caracas. Fotografia de arquivo

Analistas, observadores e muitos apoiantes da oposição duvidam que Maduro, que conta com uma máquina eleitoral leal, liderança militar, tribunais e instituições estatais, o deixe vencer.

Maduro já alertou para um "banho de sangue" se perder, atraindo o opróbrio do Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que disse: "Maduro tem que aprender: se ganhar, fica. Se perder, vai-se embora".

O cidadão venezuelano Mauricio Junguito, que fugiu da Venezuela, afirma que "a ditadura não conhece os direitos e a democracia". Em declarações à Voz da América, Junguito, agora a viver em Portugal, olha para estas eleições como "uma realidade repetida". Maduro "já perdeu, mas como no passado vai fraudar, já sabemos", declara.

"Na verdade o que vai acontecer nos próximos dias é repressão, notícias falsas e, muito provavelmente, muitos desaparecidos", atesta Mauricio Junguito, que sonha um dia ver reposta na Venezuela "a verdade, a democracia e respeito pelo cidadão".

Na sexta-feira, o presidente libertário de direita da Argentina, Javier Milei, em desacordo com muitos dos seus homólogos de esquerda na região, disse, numa mensagem a Machado, que o seu país apoiava a Venezuela "nesta luta pela liberdade" e apelou ao respeito pelo direito de voto.

Entretanto, o Foro Penal, uma ONG que defende os direitos dos "presos políticos" na Venezuela, comunicou a detenção de 135 pessoas ligadas à campanha da oposição desde janeiro. Quarenta e sete ainda estão detidas.

A reeleição de Maduro em 2018 foi rejeitada como ilegítima pela maioria dos países ocidentais e latino-americanos.

Mas anos de duras sanções americanas e outras pressões não conseguiram demover o presidente, que conta com o apoio de Cuba, da Rússia e da China.

O antigo e rico Estado petrolífero viu o PIB cair 80% em menos de uma década, levando cerca de sete milhões dos seus cidadãos a fugir.

A maior parte dos venezuelanos vive com apenas alguns dólares por mês, com os sistemas de saúde e de educação em total degradação e com uma escassez de eletricidade e de combustível.

O governo culpa as sanções dos EUA pela situação, mas os observadores dizem que tudo começou com a corrupção e a má gestão profundamente enraizadas.

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