Milhares de pessoas, vítimas do ciclone Idai, amotinaram-se esta sexta-feira, 28, junto ao edifício principal do Governo de Sofala, na cidade da Beira, em protesto contra a suspensão do início de pagamento do subsídio de assistência.
As vítimas falam também de falta de transparência no processo de inscrição para o acesso ao subsídio.
O pagamento já estava atrasado há três meses e novamente falhou, na quarta-feira, 25, quando as autoridades decidiram suspender o processo, supostamente para evitar aglomerados e conter a propagação do novo coronavírus.
Trinta e duas mil pessoas afetadas pelo ciclone Idai foram inscritas para receber o subsídio básico do Governo na cidade da Beira (70 mil em toda província de Sofala), no valor de 2.500 meticais (cerca de 35 dólares norte americanos), mas agora nem todos constam das listas para o pagamento.
Os têm os nomes nas listas deviam receber um subsídio acumulado de três meses no dia 25 de agosto, mas o valor não foi pago esta semana, situação que provocou os protestos dos beneficiários.
Esta sexta-feira, milhares decidiram ocupar o quarteirão do edifício principal do Governo provincial, exigindo negociações com o governador provincial, Lourenço Bulha.
“Ao nos ver assim, somos filhos desamparados” disse à VOA, Guilhermina Santos, que foi excluída das listas para o acesso ao subsidio. Ela assegura que foi inscrita durante o levantamento.
“Estou a pedir socorro. Não tenho emprego, tenho uma filha pequena e vivo numa casa pequenina, e o meu nome não consta da lista … quero pedir ajuda ao governador” disse outro jovem, na tribuna improvisada onde decorreu a audiência com o governador.
Transparência
As vítimas dizem que o critério usado para a seleção dos beneficiários não foi transparente, defendendo por isso que o subsidio devia ser atribuído a todos os moradores de classe baixa, na na cidade da Beira.
As reivindicações iniciaram na quarta-feira, data em que devia iniciar o pagamento do subsidio, quase 18 meses depois do ciclone Idai se abater sobre a cidade da Beira.
Na quinta-feira, os manifestantes acamparam-se na residência oficial do governador de Sofala, mas as negociações foram inconclusivas.
Esta sexta-feira, sem observar nenhuma medida de distanciamento social, no quadro do Estado de Emergência, o grupo de manifestantes amotinou-se para exigir o pagamento do subsídio e a transparência do processo.
A forte presença policial evitou ânimos dos manifestantes. O grupo dispersou-se no inicio da noite, e promete voltar aos protestos na segunda-feira.
O governador de Sofala, Lourenço Bulha, que se reuniu com as vítimas a meio da tarde prometeu encontrar uma solução para os pagamentos, sem comprometer a saúde dos beneficiários.
“Orientamos o Instituto Nacional de Ação Social (INAS), para a partir da próxima semana começar a pagar aqueles que estão inscritos” disse Lourenço Bulha, garantindo que um novo levantamento será feito nos bairros para integrar as vitimas que ficaram fora do processo.
O ciclone Idai atingiu a costa moçambicana na Beira em Março de 2019.